Amy-Jill Levine, professora de Novo
Testamento na Vanderbilt University Divinity School, escreveu sobre a parábola
do bom samaritano (Lc 10,29-37) na BAR
de Jan/Fev 2012. Lenive desenvolve o texto apresentando quatro
interpretações que ela considera “absurdas” em relação a esta popular parábola.
A seguir, três delas:
1ª interpretação absurda– os ladrões seriam “bandidos sociais”, “combatentes da liberdade”, reagindo contra a pesada tributação do Templo e de Roma. O homem ferido seria, portanto, dupla vítima dos sacerdotes e levitas: pesada tributação/abandono à morte.
2ª interpretação absurda – o homem agredido pelos ladrões seria um comerciante ritualmente impuro, mal visto pelos sacerdotes e levitas, daí a indiferença com a qual foi tratado pelos dois.
3ª interpretação absurda – o sacerdote e o levita teriam evitado a vítima porque ela poderia estar morta. Tocá-la, neste caso, tornaria os religiosos ritualmente impuros.
Quanto
a este terceiro ponto tenho algo a comentar. A autora argumenta que tal
interpretação não faz sentido, uma vez que a proibição de tocar cadáveres
inclui apenas os sacerdotes (cf. Lv 21,1-3), não se aplicando, portanto, aos
levitas. Levine também explica que a Mishná (Nazir 7,1) “insiste que mesmo um sumo sacerdote deve assistir um cadáver negligenciado”. Faço duas considerações:
Primeira: a Torah inclui como
ritualmente impuro qualquer israelita
que tocar um cadáver (cf. Nm 9,6; 19,11.13.16). No caso dos sacerdotes, a única
exceção refere-se aos seus parentes consanguíneos (she’er - Lv 21,2-3), o que não é o caso.
Segunda: a Mishná (conjunto de
ensinamentos transmitidos oralmente pelos judeus) só ganhou a forma escrita no
século II d.C. Utilizá-la, neste caso, é um anacronismo.
Mesmo
discordando da autora nestes dois pontos, concordo que a mensagem central da
parábola não é o anticlericalismo. Para ler a hipótese de Amy-Jill Levine,
apresentada no final do seu texto, clique aqui.
Jones
F. Mendonça
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