Estrela de Davi na bandeira de Israel |
É verdade que o símbolo não é originalmente judaico (aliás, a cruz também não é um símbolo originalmente cristão), mas a versão que afirma ser o hexagrama uma imposição de uma suposta seita chamada illuminati não passa de um delírio sem fundamento.
Hexagrama em colar assírio (centro) |
A estrela de Davi, de seis pontas, ou selo de Salomão, também chamada de “Magen Davi”, tornou-se um símbolo dos judeus no fim da Idade Média (grifo nosso). Em tempos anteriores, ela figurava também em símbolos cristãos e islâmicos. Foi, mais tarde, adotada pelo movimento sionista e na bandeira de Israel [1].
Ronald Eisenberg diz que o símbolo remonta a uma época ainda mais antiga. Ele afirma que a Estrela de Davi já era
um símbolo popular na Europa e no Oriente Médio desde os tempos antigos por causa de sua simetria geométrica. O primeiro uso conhecido do hexagrama judaico foi encontrado em um selo de cerca do século VI a.C. Na sinagoga de Cafarnaum, em Israel (segundo ou terceiro século d.C.), o hexagrama aparece como decoração em um friso de pedra, que também possui um pentagrama (estrela de cinco pontas) e uma suástica [2].
Os dois deltas no nome de Davi |
Uma investigação mais atenta confirma que o hexagrama não é um símbolo originalmente judaico. Ele aparece em gravuras budistas e até mesmo em relevos assírios[3] feitos algumas dezenas de séculos antes de Cristo. Ao que parece, o movimento sionista resgatou esse emblema antigo e lhe deu novo significado. Seja como for, em dado momento os judeus viram no símbolo uma ótima representação para a nação judaica.
Sinagoga, séc. III |
Sobre o primeiro uso do hexagrama como símbolo dos judeus, recorro a Grace Cohen:
O principal símbolo que representa o povo judeu hoje é a estrela de seis pontas. Embora geralmente referido como Magen David (escudo de David), não há nenhuma referência bíblica ou talmúdica para esta associação. Amplamente utilizado como um motivo geométrico ou amuleto em outras culturas, a estrela de seis pontas foi oficialmente usada como um símbolo judaico em Praga, em 1354, quando o imperador Carlos IV concedeu o privilégio aos judeus de exibirem a sua própria bandeira em ocasiões especiais[5].
Quanto ao fato de ter sido originalmente um símbolo pagão, é preciso lembrar que assim como o significado de uma palavra é o seu uso na linguagem[6], o significado de um símbolo é o seu uso cultural, religioso. O símbolo é uma forma aberta a possibilidades significantes. Enfim, eles não possuem significado ontológico.
Referências bibliográficas:
[1] FINE, Doreen. O que sabemos sobre o judaísmo, p.11.
[2] Fiz uma tradução livre. No original: “A popular symbol in Europe and the Middle East since ancient days because of its geometric symmetry, the earliest known jewish use of the hexagram was on a seal from about the sixth century B.C.E. In the synagogue of Capernaum in Israel (second or third century C.E.), the hexagram appears as a decorative design on a stone frieze, which also features the pentagram (five-pointed star) and the swastika (another ancient symbol). During the Middle Ages, hexagrams appeared frequently on seals and in churches but rarely in sinagogues or on jewish ritual objects. Indeed, from antiguity until after the renaissance, the menorah rather than hexagram was the primary symbol of judaism”. EISENBERG, Ronald L. The JPS guide the jewish traditions. Philadelphia: The Jewish Publication Society, 2004, p.575.
[4] GALDINO, Elza. Estado sem Deus, o obrigação da laicidade na Constituição, p.36.
[5] Fiz uma tradução livre. No original: “The primary symbol representing the Jewish people today is the six-pointed star. Though generally referred to as the magen David (shield of David), there is no biblical or talmudic reference for this association. Widely used as a geometric and often amuletic motif in many cultures, the six-pointed star was first officially used as a Jewish symbol in Prague in 1354, when Emperor Charles IV granted the jews privilege of their own flag displaying on state occasions”. GROSSMAN, Grace Cohen. Jewish art, 1995, p. 64.
[6] Wittgenstein, Investigações filosóficas, § 43.
Jones F. Mendonça
Jones F. Mendonça
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