"O grito", Edvard Munch - 1893. |
Não há dúvida, o atirador tinha problemas mentais, talvez esquizofrenia. Para piorar foi humilhado por colegas durante boa parte de sua vida. Especialistas em segurança dizem que não houve falha na abordagem do rapaz feita na portaria da escola. Ele era ex-aluno e declarou que sua intenção era buscar o histórico escolar. Muito natural. Um político aparece na televisão insistindo na necessidade de instalação de detectores de metais nas escolas. É preciso comprá-los sem licitação, afinal, é uma emergência, diz o preocupado representante das criancinhas. Seu cunhado, por coincidência, tem uma empresa que fabrica esses equipamentos tão úteis. Negócio fechado. Educadores refletem sobre o papel da escola na identificação de alunos com transtornos que podem levar a ações como essa. É feito um planejamento para o próximo ano. O governador aprova. Está tudo certo. Juristas são convidados a falar sobre as possíveis ligações do rapaz com grupos terroristas. É preciso investigar, diz o jurista. O delegado discorda. Para ele o conteúdo das cartas escritas pelo assassino citando nomes de muçulmanos radicais não passa de delírio. Chamem a CIA, o FBI, quem sabe eles não podem nos ajudar? Diz um vendedor a um repórter. Por fim aparece o teólogo (tem que ser da PUC). Querem saber dele se há ligação entre o que pregam as religiões praticadas pelo ex-aluno da escola e seu comportamento insano. O teólogo diz que não. Religiões pregam o bem, o amor ao próximo, a harmonia. O rapaz era louco. Ponto.
Enquanto discutimos tudo isso, as crianças que sobreviveram ao massacre e os pais e professores dos alunos que se foram estão desolados, perplexos. Não querem explicações, querem consolo, apoio, paz. Ontem (10-04-11) uma aluna apareceu num programa de TV. O repórter (acredirem!) pediu para que ela descrevesse para os telespectadores como foi a ação do atirador na sua classe. Ela disse que ele entrou na sala de aula, bem arrumado e com uma maleta. Inesperadamente apanhou um revolver e atirou na testa de sua amiga. Enquanto narrava essa cena macabra, a aluna tremia, chorava, não sabia o que fazer. Um horror! Perdoem-me os jornalistas, você tem um trabalho a fazer, reconheço, mas isso não é coisa que se faça.
Bem, agora não é hora de buscar culpados. Os alunos e o assassino já estão mortos. Ao que parece não houve falha dos professores, dos funcionários da escola, da polícia, dos bombeiros, da religião. Foi uma fatalidade. No momento precisamos pensar em como fazer professores e alunos traumatizados voltarem a sua vida normal. A escola deve ser demolida ou reformada visando reduzir o trauma? Os professores e alunos devem ser transferidos? Eles precisam de ajuda psicológica? Como anda dona Maria, mãe da pequena Joana que tão jovem deu seu último suspiro?
A ferida está aberta. Por hora empenhemo-nos tão somente na tarefa de fechá-la. Efatá!
Jones Mendonça
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