O gosto pelo desenho e pela pintura é algo que cultivo desde a minha infância. Sou fascinado pelo surrealismo, principalmente pelo de René Magritte, e Salvador Dali. Mas o naturalismo barroco do italiano Michelangelo Merisi, mais conhecido como Caravaggio (1573-1610), é algo que também me impressiona. Caravaggio gostava de retratar pessoas simples, tais como camponeses e prostitutas. Em uma das suas obras São Mateus foi retratado como um humilde artesão. Em outras telas os apóstolos surgem com a pele curtida pelo sol e pelo vento. Caravaggio sentia que o evangelho havia sido pregado aos pobres pelos pobres[1]. O espírito crítico da Reforma havia influenciado o pintor italiano, que inquietava a ortodoxia católica com suas inovações.
Seria Caravaggio um continuador da obra de Francisco de Assis segundo um viés artístico? Um precursor da Teologia da Libertação numa linguagem estética? Suas telas refletem a personalidade forte, às vezes violenta, de uma pessoa que passou a fugir da justiça italiana após matar um homem numa briga.
Uma de suas obras mais impressionantes é uma tela que retrata Davi com a cabeça degolada de Golias. É interessante notar que Davi não é apresentado com uma expressão triunfante. Seu olhar é sério, como o de quem cumpriu uma tarefa necessária, mas paradoxalmente fatídica. O fundo é escuro, não se vê a multidão que certamente acompanhou o combate e nem a paisagem de fundo. Com este artifício a cena ganha intensidade e dramaticidade. O contraste causado pelo jogo de luzes reforça o efeito, dando a impressão de que os personagens saltam da tela. A oposição entre luz e sombra é uma especialidade de Caravaggio. Por causa desse talento fora do comum, muitos pintores seguiram seu estilo, que acabou ficando conhecido como caravagismo.
Simplesmente fantástico!
Referências bibliográficas:
ARGAN, Giulio Carlo. Renacimiento y barroco. Madrid: Ediciones Akal, 1999.
BARBE-GALL, Françoise. Cómo hablar de arte a los ninõs. San Sebastián: Editorial Nerea, 2009.
MÂLE, Émile. El arte religioso de la contrarreforma. Madrid: Ediciones Encuentro, 2001.
Nota:
[1] MÂLE, Émile. El arte religioso de la contrarreforma. Madrid: Ediciones Encuentro, 2001, p. 21.
Imagem:
David
Caravaggio (Michelangelo Merisi)
1606-07, óleo sobre tela, 90,5 x 116 cm
Kunsthistorisches Museum, Viena (Áustria)
Artigo interessante e esclarecedor para quem não entende muito de arte. Muito interessante como o autor do artigo ensina para quem lê e mais interessante ainda como o artista retrata sua realidade.
ResponderExcluirLegal esse ponto de vista da "participação" dele na reforma. Faz muito sentido. Meu preferido dele é "A Incredulidade de Tomé":
ResponderExcluirhttp://literarizando.files.wordpress.com/2009/08/caravaggio-a-incredulidade-de-tome.jpg
Simplesmente fantástico mesmo!
Nunes,
ResponderExcluirAchei legal Caravaggio ter se preocupado em não retratar Davi com uma expressão triunfante. Realmente não há o que se comemorar...
Tiarles,
ResponderExcluirSegui o seu link e acabei descobrindo um site dedicado às obras de Caravaggio. Normalmente consigo as imagem no Web Gallery of Art, agora tenho mais uma fonte.
Obrigado pela dica. Gostei da imagem de São Tomé. É perturbadora!
Corrigindo: "as imagens".
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