
Uma das acusações mais curiosas foi a de que ele havia aceitado a descrição que Estrabão fizera da Judéia, descrevendo-a como uma região árida. Para Calvino isso era uma blasfêmia, já que a Bíblia apresenta essa região como sendo uma terra que mana leite e mel[1]. Pobre Servet.
O julgamento durou cerca de dois meses. Por negar a Trindade e o batismo infantil foi condenado à morte, sendo queimado vivo em 27 de outubro de 1553, mesmo após ter pedido clemência.
Calvino defendeu a sentença dada a Servet dizendo isto:
“Todo aquele que sustentar ser injustiça punir os hereges e blasfemadores torna-se cúmplice do crime deles... Não é questão aqui de autoridade do homem; é Deus quem fala”[2].
Esse artifício é utilizado ainda hoje por alguns “religiosos” que lançam a responsabilidade de seus atos sobre Deus ou o diabo.
É... o mundo não mudou muito!
Nota:
Complicado acusar Calvino na morte de Serveto, Calvino era apenas o pastor de Genebra, mas não tinha voto algum no conselho, e portanto, não foi decisão dele a morte do herege. Mas vale salientar que na época estas eram as leis, e como todos nós somos filhos de nossa época, admitir a morte por heresia era extremamente comum.
ResponderExcluirRonaldo Barboza.
Eu não disse que Calvino foi o responsável pela morte de Servet. O que eu disse é que Servet foi perseguido pelo reformador francês, e que concordou com sua sentença. Isso é um fato.
ResponderExcluirQuando Calvino recebeu um exemplar do Christianismi restitutio, escrito por Servet, escreveu a Farel:
"Servet acaba de enviar-me um grande volume de suas loucuras. Se eu consentir, ele virá aqui, mas não quero dar minha palavra, pois se vier, e eu tiver autoridade, não tolerarei que saia vivo"[1];
Reconheço o valor de Calvino. Sua capacidade intelectual é indiscutível (conheço as Institutas). O que quis mostrar no texto é que a intolerância religiosa persistiu mesmo após a Reforma. Lutero também teve seus excessos. O famoso caso das bruxas de Salém é outro exemplo.
Calvino, Lutero, os puritanos de Salém... Não quero acusar nenhum segmento religioso ou pessoa. Mas que fique a mensagem: quando a doutrina é posta acima do amor, o cristianismo morre. E é lamentável que isso se repita ainda hoje.
[1] DURANT, Will. A Reforma, 2002, p. 402.
Há um outro caso marcante de "inquisição" protestante: foi em Zurique, em 1527. Lá, com a permissão de Zwínglio, outro grande reformador, foi afogado seu discípulo, Félix Manz. Ver A "inquisição" protestante, em www.igrejabatistadoverbo.blogspot.com
ResponderExcluirNão é a primeira vez que vejo alguém tentar livrar a culpa de Calvino. Se ele não tomou conhecimento algum talvez não tenha culpa mesmo. Mas se tomou, e sabemos que sim, deveria ter posto em prática o ensinamento de Cristo que diz: "Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam". Se a lei da época dizia diferente ele deveria levantar a voz contra a lei da época e não dar vazão ao lado mal da natureza humana.
ResponderExcluir