terça-feira, 21 de março de 2023

SOBRE O JEJUM DE DANIEL

1. Muita gente se pergunta a respeito das razões que levaram o autor do livro de Daniel a registrar a rejeição dos judaítas empregados na corte babilônica às “iguarias do rei” (1,8). Seriam esses alimentos oferecidos a divindade locais? A abstenção visava evitar o luxo e demonstrar humildade? Uma dieta de legumes é mais saudável? Seria Daniel um vegetariano ou vegano? Nada disso. A razão é outra.

2. O episódio tem finalidade didática, e é destinado às comunidades judaicas da diáspora, expostas diariamente aos costumes estrangeiros, vistos como uma ameaça à sua fé e às suas tradições. Veja que Daniel rejeita alimentos de origem animal, mas aceita alimentos “semeados” (זרע; “legumes” não é uma boa tradução), ou seja, tudo o que vem da terra (exceto o vinho, cf. 1,8), como frutas, legumes, verduras, azeite e cereais.

3. O profeta aparece como modelo de como se portar em terras estrangeiras no que diz respeito à dieta judaica, baseada em um conjunto de regras alimentares estabelecidas pela tradição (Torah/Talmud). Assim, fez opção por uma alimentação especial, atualmente chamada de kosher. As regras preveem uma série de restrições relacionadas aos alimentos de origem animal e ao vinho, mas poucas em relação aos frutos da terra.

4. Legumes, frutas, verduras e cereais precisavam passar por um exame relativamente simples: deveriam ser bem lavados para e evitar a ingestão de pequenos moluscos e insetos. Assim, o texto quer enfatizar que o vigor de Daniel e de seus companheiros (cf. 1,15) vem da fidelidade a seu Deus, e não dos alimentos em si. A Lei judaica jamais proibiu o consumo de carne ou de vinho.

5. Talvez você não saiba, mas atualmente existe até telefone kosher e um KosherTube!




Jones F. Mendonça

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