quarta-feira, 22 de junho de 2022

BREVÍSSIMA HISTÓRIA DE SATANÁS

1. A palavra hebraica “satan” (שטן) significa “adversário”. Este adversário pode ser humano, como Hadad, rei edomita que se coloca como “satan” (adversário) de Salomão (1Rs 11,14). Por vezes este “adversário” aparece na corte celeste, representado por um dos bney haelohim (filhos de elohim), exercendo a função de advogado de acusação (cf. Jó 1,6). Ele não é adversário de Yahweh, mas das criaturas humanas. Sua função é colocá-las à prova.

2. Apenas em Crônicas “Satan” (agora corretamente traduzido com “s” maiúsculo, cf. 1Cr 21,1) indica o adversário de Yahweh. O termo aparece sem artigo e claramente revela que a teologia judaíta sofreu uma “evolução”, passando a tratar o antigo membro da corte celeste encarregado de apontar as faltas humanas como opositor do próprio Yahweh. Aqui é possível notar a influência do dualismo persa.

3. Antes de ser incorporada essa “novidade”, a ideia que se tinha de Yahweh era bem diferente: era ele quem fazia tanto o bem quanto o mal (cf. Is 45,7; Lm 3,38). Repare que em 2 Sm 24,1 é o próprio Yahweh quem incita Davi a realizar o recenseamento (veja também 1Rs 22,20-23). Mas em Crônicas, texto tardio já influenciado pelo dualismo persa, uma nova interpretação do episódio é apresentada: não foi Yahweh, mas Satan quem incitou Davi a cometer este tropeço (2Cr 21,1).

4. No Novo Testamento a crença na existência de Satanás como opositor de Yahweh aparece com força. A novidade é que agora ele tem ao seu lado um exército de anjos rebeldes, os “caídos” (נפיל), também chamados de “Vigilantes” no livro de Enoque. Reflexos dessa crença aparecem no livro de Judas (v.6), de Pedro (2Pe 2,4) e no Apocalipse (12,4).



Jones F. Mendonça

 

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