terça-feira, 23 de junho de 2015

REFORMA PROTESTANTE E PODER GOSPEL

Tente imaginar a Igreja a partir do século XII. As ideias separatistas de Pedro Valdo (1140-1217), um comerciante de Lyon, espalham-se pela Europa, gerando preocupação da liderança católica. Os seguidores de Valdo (valdenses), dotados de uma espiritualidade voltada à pobreza e simplicidade dos cultos, são duramente perseguidos pela Inquisição. Ao lado dos valdenses surgem os cátaros (ou “homens bons”), outro grupo dissidente visto como ameaça à fé cristã oficial que também sofreu com a perseguição. 

Mas o descontentamento com a espiritualidade cristã medieval deu outros frutos. Comprometidos com a igreja, mas igualmente insatisfeitos com o luxo e a ambição pelo poder da liderança romana, surgem ordens mendicantes como franciscanos, dominicanos e carmelitas. Some-se a isso uma crise do papado conhecida como “cisma papal” (1378-1414), marcada pela existência de dois papas governando a igreja simultaneamente em confronto direto: um na França (Avinhão) e outro em Roma. 

Em meio à crise aparecem dois grandes pregadores eloqüentes anunciando aos quatro ventos uma crítica feroz à Igreja: John Wyclif (Inglaterra, 1320-1384) e Jan Hus (Boêmia, 1369-1415). O primeiro morreu queimado. O segundo (protegido por gente poderosa) escapou da morte, mas teve seu corpo exumado, sendo seus restos mortais incinerados. 

Para finalizar imagine nobres em seus belos castelos, ansiosos pelo fim da influência do papado em seus negócios e de olho nas terras da Igreja. Igualmente ambiciosos e insatisfeitos com o poder da igreja e suas interferências aparecem os burgueses, comerciantes que enriqueciam com o comércio e o empréstimo de dinheiro. O palco está armado.

Doutrinas confusas, imoralidade do clero, surgimento de grupos dissidentes e ordens mendicantes, disputas pelo papado marcadas pela ambição pelo poder, ambições políticas e econômicas. Junte tudo e você entenderá o sucesso da Reforma do século XVI, cujo estopim foram as 95 teses escritas por um monge agostiniano chamado Martinho Lutero. 

Lutero ainda foi beneficiado pelo sucesso da imprensa, pelo apoio intelectual vindo de eruditos humanistas e pela chegada na Europa de textos das Escrituras no idioma original (vindas de Constantinopla, agora nas mãos dos turcos otomanos). Mas há ainda um toque final: Lutero era atormentado por uma intensa crise espiritual ligada ao modo medieval de articular a fé. 

A parte triste dessa breve história? Não há nada de novo debaixo do céu.



Jones F. Mendonça

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