Como prometido
aqui, continuo postando um resumo da obra “O Jesus histórico, um manual”, de
Gerd Theissen (Loyola, 2004, 651 páginas). A ideia é fazer um resumo acrescentando informações de outras obras e links que facilitem a assimilação do assunto. No primeiro post dei destaque ao que
Theissen considera como “primeira fase na pesquisa sobre a vida de Jesus”
(Reimarus e Strauss). No post de hoje volto-me para a “segunda fase” (Heinrich Julius Holtzmann,
1832-1910), caracterizada pelo “otimismo da pesquisa liberal sobre a vida de
Jesus”:
Sob o impulso do
florescimento do liberalismo teológico, cuja base metodológica é a exploração
crítico literária das fontes mais antigas sobre Jesus (fontes = documentos
escritos que serviram de base para a redação dos evangelhos), Holtzmann
contribuiu para tornar duradoura a teoria das duas fontes (desenvolvida por Wilke e Weisse). Mas o que diz
a “teoria das duas fontes"? Bem, para os defensores dessa teoria, duas foram as fontes
escritas usadas como base na redação de Mt e Lc: Fonte 1) evangelho de Marcos (o mais
antigo dos sinóticos); Fonte 2) documento hipotético, conhecido por Mt e Lc
(com toda a certeza não por Marcos) do qual não sobreviveu nenhuma cópia,
chamada de Quelle (palavra alemã para
“fonte”), representada pela letra Q.
Não entendeu? Vou explicar
melhor. Entre os anos de 30-60 teriam se cristalizado pequenas coleções de sentenças
de Jesus e suas atividades, sobretudo milagres. Este material (fonte Q) está presente em
Mt e Lc, mas não em Marcos. Por volta de 65-70 Marcos, desconhecedor
de Q, teria redigido uma tradição
narrativa sobre Jesus, dando origem ao primeiro evangelho. Por volta de 80,
depois da destruição do Templo, Mt e Lc teriam escrito seus evangelhos,
independentemente um do outro, usando tanto Marcos como Q. Numa ordem
cronológica:
1. Entre 30-60:
surgimento de pequenas coleções de ditos = Quelle (Q) ou Logienquelle (fonte
dos ditos);
2. Entre 65-70:
surgimento do evangelho de Marcos;
3. Por volta de
80: nascimento dos evangelhos de Mt e Lc (inspirados em Mc e Q).
Do evangelho de
Marcos Holtzmann retirou o esboço da vida de Jesus, lendo nele uma evolução
biográfica com o ponto crucial em Mc 8: na Galileia formou-se a consciência
messiânica de Jesus, em Cesareia de Felipe ele se revelou aos discípulos como
Messias. Ao quadro biográfico derivado de Marcos Holtzmann adicionou as “palavras
autênticas” de Jesus tomadas de Q.
Com essa base
metodológica os liberais esperavam reconstruir a personalidade legitimadora de
Jesus e de sua história. Mas na virada do século XIX para o XX esse otimismo entrará em colapso.
Jones F. Mendonça
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