sexta-feira, 14 de novembro de 2014

JOSÉ E ASENATH: JESUS E MADALENA?

Diante da postura sensacionalista de boa parte da mídia em relação ao suposto evangelho perdido de Jesus que revela seu casamento com Maria Madalena, reuni aqui o que se tem dito sobre o documento:
1) O manuscrito, com 1450 anos de idade, esteve no Museu Britânico e mais tarde na Biblioteca Britânica desde 1847.
2) Foi escrito em siríaco, um dialeto aramaico falado no sudeste da Turquia desde o primeiro século, mas que só ganhou importância literária após o terceiro século.

3) Argumenta-se que foi traduzido de um texto grego mais antigo. Barrie Willson e Simcha Jacobovici, responsáveis pela publicação do livro, sugerem que seja a tradução de um original do primeiro século, escrito por um dos seguidores de Jesus antes mesmo da redação dos Evangelhos canônicos.

4) A tradução, publicada pela editora Pegasus, foi feita por um dos maiores estudiosos siríacos do mundo, o professor Tony Burke, da Universidade de York, Toronto. 
5) No manuscrito, “Maria Madalena” é a estrela principal - e não “Jesus”. Neste evangelho", ela é chamada de "A Mãe das virgens" e "Nossa Senhora". Willson e Jacobovici levantam a seguinte suspeita: “Será que esses títulos - hoje associados à Virgem Maria - originalmente pertenciam à esposa, não a mãe?”.

6) No item anterior “Maria Madalena” e “Jesus” são colocados entre aspas porque no manuscrito os nomes que aparecem são “José” (filho de Jacó) e “Asenath” (filha de Potifar). A narrativa seria uma alegoria, referência velada a Jesus e Madalena. 
Todas essas informações, é claro, precisam ser submetidas a uma criteriosa análise crítica. Parecem-me um tanto quanto suspeitas as declarações que colocam as origens no manuscrito no primeiro século, tendo como autor um seguidor próximo de Jesus. Que tipo de evidências podem ser apresentadas para legitimar essa declaração?    

Nos Evangelhos, Maria Madalena aparece: 1) na crucificação de Jesus (Mt 27,56; Mc 15,40; Jo 19,25); 2) Sentada diante de sua sepultura (Mt 27,61; Mc 15,47); 3) Novamente no sepulcro, agora para ungir o seu corpo (Mc 16,1), 4) diante do Jesus ressurreto, sendo a primeira a vê-lo (Mc 16,9, Lc 24,10; Jo 20,1.18) e 5) sendo exorcizada por Jesus, que expulsou dela 7 demônios (Lc 8,2).  Madalena é algumas vezes associada à “mulher pecadora” anônima que regou os pés de Jesus com lágrimas, os secou com seus cabelos e depois os ungiu com bálsamo (Lc 7,37-38), embora isso não fique claro no texto.


Jones F. Mendonça

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