segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ADIÇÕES AO LIVRO DE ESTER – RESUMO

Por Jones Mendonça

INTRODUÇÃO

A forma hebraica do livro de Ester possui 10 capítulos (conf. versão protestante), já a versão grega contém alguns acréscimos e ampliações (conf. versão católica). Os acréscimos gregos são do final do século II e destacam a intervenção divina no episódio, diferentemente da versão hebraica, que sequer menciona o nome de Deus. S. Jerônimo ao traduzir Ester colocou os acréscimos em apêndice (c. 11–16). Os acréscimos gregos da Septuaginta estão na introdução, após 3,13; 4,16; 8,12 e 10,3. A edição crítica de R. Hanhart da Septuaginta de Göttingen (1966), identifica os fragmentos pelas letras (A–F), utilizando o grifo para os distinguir do texto hebraico. Fiz o resumo baseado numa edição da editora Vozes, que segue o texto crítico de R. Hanhart. Nesta versão os acréscimos e ampliações estão dispostos da seguinte forma:

  • 17 versículos na introdução (antes do cap. 1 da versão hebraica);
  • 7 versículos depois do capítulo 3;
  • 30 versículos depois do capítulo 4;
  • 15 versículos depois do capítulo 5;
  • 24 versículos depois do capítulo 8, e;
  • 11 versículos depois do capítulo 10.

RESUMO DO LIVRO

A história começa com o sonho de Mardoqueu, um judeu funcionário da corte que passou a viver em Susa, após ter sido deportado por Nabucodonosor juntamente com Jeconias, rei de Judá. No sonho, Mardoqueu vê dois dragões avançando para o combate, enquanto a terra é assolada por trovões e terremotos. Os dragões lançam um rugido, dando início a um combate entre várias nações e o povo dos justos. Esse povo invoca a Deus e através de seu grito nasce um rio de águas caudalosas. Na seqüência os poderosos são devorados pelos humildes. Ao acordar, Mardoqueu se concentra no sonho, buscando de todas as maneiras decifrá-lo.

Algum tempo depois Mardoqueu percebe dois eunucos conversando sobre um plano para matar o rei. Antes que pudessem executá-lo, Mardoqueu os denuncia ao monarca, que após torturá-los e ouvir as suas confissões os envia ao suplício. Diante dessa demonstração de fidelidade, o rei confia a Mardoqueu uma função no palácio e o recompensa com presentes. Amã, homem de confiança do rei, planejando matar Mardoqueu por causa dos dois eunucos, convence o rei a escrever uma carta aos governantes das províncias e aos chefes de distrito, ordenando que todas as pessoas cujos nomes estivessem nela sejam exterminados. Amã acusa os judeus de serem um povo mal intencionado, possuidor de leis estranhas e hostil aos interesses do rei.

Diante do conteúdo da carta, Mardoqueu ora ao Senhor, dizendo que até se ajoelharia diante de Amã caso isso proporcionasse salvação para Israel. Mas sua recusa em fazê-lo se dá no intuito de evitar que a glória de um homem seja posta acima da glória de Deus.


A rainha Ester (judia como Mardoqueu), sabendo do conteúdo da carta, despoja-se de suas vestes reais e veste-se de luto, buscando refúgio no Senhor. Entendendo que a situação havia sido provocada pelo pecado de idolatria cometido pelo povo, ela alega inocência, dizendo jamais ter bebido o vinho das libações e comido na mesa de Amã.

Após o término da oração, Ester deixa as vestes de súplica e comparece diante do rei de forma esplendorosa. Ao se colocar diante dele, desmaia, comovendo o coração do rei. O episódio faz com que o rei mude de idéia e redija uma nova carta, onde reconhece ter sido influenciado por Amã. O rei determina que a nova carta seja afixada em todos os lugares, permitindo que os judeus sigam livremente suas próprias leis. Amã acaba sendo enforcado por ordem do rei.

Mardoqueu lembra-se de seu sonho, e interpreta a visão dos dois dragões com sendo ele e Amã; o rio com sendo Ester; e os povos como sendo aqueles que se coligaram para extinguir os judeus.


Mardoqueu, diante de tudo o que aconteceu, entende que Deus fez justiça à sua herança, e por isso, os dias quatorze e quinze do mês de Adar, seriam dias de regozijo, para todo o sempre.

Bibliografia:

BÍBLIA KING JAMES: versão digital. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982.

MONLOUBOU l.; LÉVÊQUE J.; PREÉVOST J. P.; GRELOT P.; AUNEAU J.; GILBERT P. M.; SAULNIER Ch. Os Salmos e outros Escritos. São Paulo: Paulus, 1996.

Crédito da imagem:

Ester no vitral (detalhe)
1240
Sainte-Chapelle, Paris

O LIVRO DE JUDITE - RESUMO

Por Jones Mendonça

De autoria desconhecida a redação do livro tem sido comumente datada para o período helenístico. Alguns sugerem que ele tenha passado por várias edições até que tomasse a forma atual. O livro é iniciado com o relato da vitória de Nabucodonosor sobre Arfaxad, rei dos medos e sobre todos os países do ocidente, tendo a Helofernes como chefe supremo de seu exército. Os israelitas residentes na Judéia, diante da notícia do que Holofernes fizera aos outros povos, deslocam-se para os declives das montanhas a fim de deter os invasores, já que a estreiteza da garganta só permitia a passagem de dois homens no máximo.

Diante da recusa dos israelitas de partirem para o combate, Holofernes pergunta a Aquior o que motivou tal atitude. Aquior conta a história dos israelitas e o aconselha a evitar um confronto caso não seja encontrada transgressão entre esse povo, do contrário o Deus deles tomaria vingança. Acusado de colaborar com o inimigo, Aquior é entregue nas mãos dos judeus.

Holofernes cerca a cidade por trinta dias, fazendo com que a população fique privada de água, debilitando o ânimo de muitos judeus. O povo, diante do impasse, encontra uma saída pouco convencional. Uma bela e encantadora israelita chamada Judite, após despir-se de seus trajes de viúva e enfeitar-se com esmero, dirige-se ao acampamento assírio, com o intuito de cativar como seu encanto e beleza os olhos dos inimigos.

Fazendo-se passar por traidora, Judite consegue, através de sua beleza, astúcia e habilidade nas palavras, enganar Holofernes. No momento oportuno, após um banquete, ela decapita o general que estava bêbado, levando triunfante sua cabeça a Betúlia, expondo-a no parapeito da muralha. Sabendo da morte do general inimigo, Israel avança em direção ao exército assírio, que agora sem comando, foge desesperado. O amonita Aquior, aquele que havia sido acusado de traição por Holofernes, se converte ao Deus dos judeus. O povo louva a Deus e a coragem de Judite, que compõe um cântico de ação de graças. Os judeus saqueam o acampamento dos assírios por trinta dias e dão a Judite a tenda de Holofernes, toda a prataria, os divãs, as bacias e todo o seu mobiliário. O livro termina com sacríficios de ação de graças em Jerusalém. Por fim o livro relata a morte de Judite em Betúlia, após longa e feliz velhice.

UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO
O livro é, assim como outros tantos contos judaicos, uma bela novela histórica com final feliz, mostrando que o povo judeu goza de uma proteção divina especial. A figura de Judite, que significa “a judia”, representa a coragem, servindo de exemplo para os momentos de grande angústia. A história deseja incentivar a fidelidade a Deus, pois como lembra Judite: “O nosso Deus está conosco” (13,11). O livro foi escrito em meados do século II a.C., numa época em que o nacionalismo judaico era extremamente intenso por causa do levante dos macabeus.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

RESUMO DO LIVRO DE TOBIAS

1. Introdução

O livro de relata a saga do Tobias, filho de Tobit, um homem piedoso, casado com Ana, que havia sido deportado para a Nínive durante o reinado de Salmanasar. Tobit fora beneficiado com uma posição de influência junto ao rei, o que lhe permite fazer muitas viagens, durante as quais dá esmolas a outros judeus e enterra os que haviam sido mortos por Senaquerib, filho do rei. Após a morte de Salmanasar, seu filho passa a reinar em seu lugar. Agora no poder, Senaqueribe confisca os bens de Tobit, após ser denunciado por um ninivita como sendo o responsável pelo enterro dos israelitas mortos por ele.

2. O drama de Tobit e Sara

No dia da festa de Pentecostes, durante um almoço, Tobit pede para que seu filho saia em busca de um israelita necessitado, para que possa participar da refeição com sua família. Seu filho retorna dizendo ter encontrado um israelita estrangulado em praça pública. Tobit, um inveterado sepultador de corpos, esperou o pôr-do-sol e enterrou o defunto. Sua atitude provoca o escárnio dos vizinhos, pois já havia sido punido por essa prática. Tobit volta para casa e, após o banho, se deita junto à parede do pátio com a cabeça descoberta e acaba sendo atingido nos olhos pelo excremento de um pássaro, tornando-o cego. Tobit é sustentado por Aicar durante dois anos até que ele parte para Elimaida. A partida de Aicar faz com que Ana passe a sustentá-lo com trabalhos femininos. Tobit, desolado com a situação, ora ao Senhor pedindo sua morte, pois não suportava mais tantos infortúnios, tendo ainda que ouvir repetidas injúrias.


Paralelamente ao drama de Tobit, o livro passa a descrever a angústia de Sara, filha de Raqüel. Sara tem que suportar injúrias de uma escrava de seu pai, pois havia sido dada em casamento a sete homens que morreram antes que os casamentos fossem consumados. A escrava acusou-a de ter matado os pretendentes e aconselhou Sara a pôr fim a sua vida. Ela, subindo ao aposento de seu pai, no intuito de se enforcar, muda de idéia e ora ao Senhor pedindo que lhe tire a vida. O drama de Tobit e Sara envolve o leitor, que se pergunta: “Como terminará esta história?”.


3. A resposta à oração

A narrativa continua e relata que as preces de Tobit e Sara foram ouvidas. Rafael, um anjo de Deus, é enviado para curar a cegueira de Tobit e libertar Sara de um demônio chamado Asmodeu, verdadeiro responsável pela morte de seus pretendentes.

Tobit, vendo a morte chegar, envia Tobias à Média, a fim de recuperar uma quantia depositada nas mãos de Gamael. Tobias sai à procura de alguém que lhe faça companhia, e que conheça o caminho da Média. Ele encontra o anjo Rafael, que se apresenta a seu pai como sendo Azarias, filho de um de seus irmãos.


4. A viagem de Tobias e seu encontro com Sara

Tobias viaja acompanhado do anjo e de um cão. Ao anoitecer, decide acampar junto ao rio Tigre. Quando Tobias desce para lavar os pés no rio, um peixe salta em sua direção tentando devorar-lhe o pé. O anjo pede para que agarre o peixe, pois o fel, o coração e o fígado dele seriam remédios úteis. Rafael lhe diz que o coração e o fígado do peixe, quando queimados diante de uma pessoa afligida por um demônio ou espírito mau, cessa suas ações maléficas. O fel, quando soprado após ser untado sobre os olhos, seria útil para curar uma pessoa atingida por leucomas.


Ao chegarem à Média, Rafael diz a Tobias que devem hospedar-se na casa de Ragüel, pai de Sara, pois tem o direito casar-se com sua filha e herdar legitimamente todos os seus bens. Tobias conhecendo a história de Sara, expõe o medo que tem de morrer, como acontecera com os outros sete pretendentes. Rafael, diante da declaração de Tobias, o instrui a colocar o fígado e o coração do peixe sobre as brasas do perfumador assim que entrasse no quarto nupcial. Segundo rafael isso provocaria a fuga do demônio.

Ao chegarem à casa de Raguel, em Ecbátana, são muito bem recebidos e Ragüel fica muito emocionado após saber que Tobias era filho de um homem tão nobre como Tobit. Ragüel, ouvindo Tobias conversar com Rafael sobre sua intenção de pedir sua filha em casamento, pede para que coma e beba tranquilamente, pois seu direito estava assegurado. Ragüel lhe conta sobre a morte dos pretendentes de sua filha e pede para que Tobias espere uma providência divina para solucionar o caso. Tobias diz que não pretende esperar e é atendido por Ragüel.


5. Tobias vence o demônio com a ajuda de Rafael

Após firmado o contrato de casamento, quando introduzido no quarto preparado para o casal, Tobias se lembra das palavras de Rafael e pôe o fígado e o coração do peixe sobre as brasas do perfumador. Como predito por Rafael, o demônio fuge para as regiões do Egito, vindo a ser preso pelo anjo.

Ragüel, tendo como certa a morte de Tobias, pede para que seus servos cavem uma sepultura e verifiquem se Tobias ainda estava vivo. Ao saber que ainda vivia, Ragüel bendiz ao Senhor e pede para que Tobias se detenha em sua casa por quatorze dias, até que pudesse seguir para a casa de seus pais. Tobias pede para que Rafael parta para Rages e recupere o dinheiro que esta com Gamael. Rafael recupera o dinheiro e retorna acompanhado por Gamael, que abençoa Tobias emocionado.


6. A volta para casa

Ao fim do prazo de quatorze dias, Tobias pede para que Raqüel o deixe voltar para a casa de seus pais, informando a ele o estado de saúde de seu pai, motivo de sua urgência.Tobias segue de volta para sua casa com os bens que recebera por direito, acompanhado por Sara e Rafael. Ao se aproximarem de Caserim, Rafael pede para que prepare o fel, a fim de curar a cegueira de seu pai. Quando chega em casa, após ser recebido por Ana, Tobias busca ansiosamente por seu pai. Ao encontrá-lo, aplica-lhe o remédio, curando-o da cegueira. Tobit, agora curado, segue ao encontro de sua nora e a abençoa. Após celebrada a festa de casamento, Tobit pede para que Tobias recompense Rafael com metade dos bens trazidos de Ecbátana, pois havia trazido muitos benefícios para sua família. Quando Tobias chama Rafael lhe oferecendo a recompensa, ele se revela a Tobias como sendo um dos sete anjos que permanecem diante da glória do Senhor. Rafael exalta a piedade e bondade de Tobit e pede para que escreva sua história desde o princípio, para que todos possam conhecer as obras grandiosas de Deus. Tobit entoa um cântico ao Senhor, onde exalta seu nome e profetiza a restauração de Israel.


7. O fim da história

Tobit morre em paz, na idade de cento e doze anos, gozando de uma vida próspera. Nos últimos momentos de vida, chamou Tobias e lhe recomendou que se mudasse para a Média assim que sepultasse sua mãe, pois cria na profecia de Naum, que previa a destruição de Nínive. Também ressaltou a importância de uma vida justa e caridosa e disse a Tobias que Jerusalém seria reconstruída e todos os povos se converteriam a Deus, abandonando seus ídolos.


Após a morte de Ana, Tobias, como recomendado por seu pai, parte com sua esposa para Ecbátana, indo morar com seus sogros. Dá honrosa assistência a eles em sua velhice e ao fim de suas vidas, herda seus bens. Tobias morre aos cento e dezessete anos cercado de afeição. Antes de morrer teve notícias da destruição de Nínive.


8. Um breve comentário sobre o livro

O relato, de cunho novelístico é repleto de ensinamentos sapienciais, onde traz belos ensinamentos, tais como: respeito e honra aos pais, cuidado para com os mortos, justiça, honestiadde, bondade e compaixão para com o próximo (4,3-19; 12,6-20). É fácil identificar-se com a história, ainda que se passe há muito tempo atrás. Elementos contidos no texto, como o choro de Ana na despedida do filho (05,17-23), o cão que acompanha Tobias (6,1; 11,4) e a impaciente espera pela volta do filho (10,1-7) ainda fazem parte do nosso cotidiano nos dias de hoje, permitindo que o leitor se identifique com a história. O livro procura mostrar que o israelita fiel a seu Deus e à sua religião nunca está só, mas é objeto da especial proteção divina. Manifesta também a esperança de que quando Deus reunir o seu povo de todas as nações (13,5), então também os pagãos se converterão ao Senhor para formarem um único povo de Deus (14,6s).

terça-feira, 4 de agosto de 2009

LÍDERES EPISCOPAIS DE LA SAGRAM DOIS BISPOS HOMOSSEXUAIS

A Igreja Episcopal de Los Angeles sagrou no domingo um homem e uma mulher abertamente homossexuais como bispos, numa decisão que deve agravar as tensões na comunidade anglicana global.


No sábado, a Diocese Episcopal de Minnesota havia anunciado que três clérigos foram identificados como candidatos a bispos da localidade, inclusive uma pastora de Chicago que mantém união estável com outra mulher.


Há poucas semanas, a Igreja Episcopal dos EUA, braço local da Igreja Anglicana, com 2 milhões de seguidores, suspendeu uma regra que na prática impedia a sagração de bispos homossexuais.


Alguns viram a decisão como um "cessar-fogo" entre facções liberais e conservadoras dos anglicanos, uma religião com 80 milhões de seguidores no mundo.


A Diocese Episcopal de Los Angeles disse em seu site que indicou seis clérigos para a eleição, em dezembro, de dois bispos auxiliares.


Entre eles estão o reverendo John Kirkley, de San Francisco, e a cônega Mary Douglas Glasspool, da dioecese de Baltimore. Ambos se assumem como homossexuais em biografias postadas no site da Diocese de Los Angeles.


A unidade dos anglicanos está em xeque desde 2003, quando Gene Robinson foi sagrado como bispo de New Hampshire -- o primeiro abertamente homossexual na história dessa Igreja, que é essencialmente uma ramificação da Igreja da Inglaterra.


Revoltadas, alguma congregações deixaram a Igreja Episcopal e formaram uma Igreja rival na América do Norte, que diz ter 100 mil seguidores. Igrejas anglicanas em outros países, especialmente na África, também romperam com seus irmãos mais liberais dos EUA.


As pesquisas indicam consistentemente que gays e lésbicas têm uma crescente aceitação na sociedade dos EUA. Mas grupos religiosos que se expandem rapidamente no país, como os evangélicos e os mórmons, proíbem a prática homossexual.

Reuters/NC

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

PAI É CONDENADO POR REZAR EM VEZ DE LEVAR FILHA DOENTE AO MÉDICO

Um júri no Estado americano de Wisconsin condenou um homem pela morte da filha doente de 11 anos, por ter rezado por sua cura em vez de buscar ajuda médica.


A menina, Madelaine, morreu em março do ano passado, vítima de diabetes, em sua casa na zona rural de Wisconsin, cercada de pessoas que rezavam por sua recuperação.


No julgamento, neste sábado, o pai, Dale Neumann, 47 anos, disse que acreditava que Deus poderia curar sua filha.


Neumann, que chegou a estudar para ser ministro pentecostal, disse ao júri que, caso chamasse ajuda médica para a filha, “estaria colocando o médico à frente de Deus”.


Somente quando Madelaine parou de respirar a família chamou uma ambulância.
A mulher de Neumann, Leilani, já foi condenada pelo mesmo crime.
Segundo o correspondente da BBC em Washington, Jon Donnison, o casal poderá pegar pena de até 25 anos de prisão quando sua sentença for divulgada, em outubro.

BBCBrasil/NC

quinta-feira, 30 de julho de 2009

OBRAS DE ARTE NA PONTA DO DEDO

Se você gosta de arte como eu, não deixe de dar uma olhada na Web Gallery of Art, um museu virtual capaz de buscar em um banco de dados, pinturas e esculturas européias dos períodos gótico, renascentista, barroco, neoclássico, romântico e realista (1100-1850).

O arquivo conta atualmente com mais de 22.600 reproduções. A maioria das telas está em alta resolução.

As buscas podem ser feitas por título, autoria, período, tipo (paisagem religião, etc.) e até mesmo pelo local onde se encontra a obra atualmente (museus, galerias, etc.).

Imperdível!

Destaque:

GUERCINO

Retrato de Francesco Righetti

1626-28

óleo sobre tela, 83 x 67 cm

Coleção privada

http://www.wga.hu/

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A POLIGAMIA ENTRE OS JUDEUS

Por Jones Mendonça

Era a poligamia permitida na Jerusalém do tempo de Jesus? Joachim Jeremias diz que sim, e mostra documentos judaicos que comprovam isso.

Em relação ao rei, por exemplo, ele nos diz que “A mishna [obra rabínica que discute as leis] concede-lhe dezoito mulheres no máximo” (citando Sanh. II 4). Em relação a Herodes, ele revela que “teve dez mulheres” (citando Ant. XVII 1, 3 § 19; B. j. I 28, 4, § 562; cf. Ant XV 9, 3, § 319ss; XVII 1,2, § 14; B. j. I 24, 2, § 477).

As esposas tinham que tolerar a presença das concubinas ao lado do marido, como ocorria, por exemplo, com Abraão, Davi e Salomão. Joachim Jeremias destaca que no tempo de Jesus essa prática ficava reservada aos mais abastados, já que isso era bastante custoso. Alguns maridos preferiam casar-se de novo à repudiar a mulher, quando o contrato de casamento fixava uma taxa muito alta em caso de divórcio.

Joachim Jeremias constatou que essa prática era ainda comum em 1927, na cidade de Artas, perto de Belém. Dentre os 112 homens casados, 10% tinham mais de uma mulher. Na maioria das vezes, “apenas” duas.

É... como a mulher sofria no passado. Como se não bastasse terem que tolerar várias concubinas ao lado, eram obrigadas a andar quase como uma muçulmana talibã. Veja esse relato, para finalizar: “A mulher que saía de casa sem ter a cabeça coberta, quer dizer, sem o véu que ocultava o rosto, faltava de tal modo aos bons costumes que o marido tinha o direito, até mais, tinha o dever de despedi-la sem ser obrigado a pagar a quantia que, no caso de divórcio, pertencia à esposa, em virtude do contrato nupcial” (citando Tos. Sota V 9 (302, 7s) e Ket. VII 6).

Fonte:

JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestametário. Tradução de M. Cecília de M. Duprat. São Paulo: Paulus, 1983, p. 131, 136 e 486.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

GREGÓRIO, O CAPETA E OS NEOPENTECOSTAIS

Por Jones Mendonça

Após ler que a Assembléia de Deus dos Últimos Dias proíbe os membros de sua igreja a possuírem em suas casas plantas em vasos porque podem “esconder espíritos malignos” (leia aqui), comecei me indagar de onde tiraram essa idéia pitoresca. Revirei meus livros e como eu suspeitava a tal crença vem da idade média:


O papa Gregório Magno, em seus Diálogos, conta que uma pobre freira, tendo entrado na horta do convento para colher alfaces e comido, sem a oração devida, um pé de alface no qual um diabo se escondia, ficou por isso endemoniada [1].

Só para lembrar, Gregório Magno é o mesmo Gregório o Grande, um humilde monge que assumiu o papado meio contrariado. Não gostava muito de política. Gregório teve lá suas virtudes, mas acabou enfatizando demais os milagres e os episódios fantásticos operados pelos santos. Propagou os ensinamentos de Dionísio o Areopagita a respeito das categorias de anjos e obrigou todas as igrejas a terem pelo menos uma relíquia sagrada. Enfim, era até gente boa, mas adorava uma superstição. Pelo que vejo as igrejas neopentecostais estão seguindo o mesmo trajeto de Gregório. Como dizia um amigo meu “na igreja gospel nada se cria, tudo se copia”. O que não entendo é que eles são os maiores críticos do catolicismo romano.

Efatá!

[1] NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no imaginário cristão, 2002, p. 42.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O LIVRO DE ISAÍAS E A QUESTÃO DO DÊUTERO-ISAÍAS

Por Jones Mendonça

I. Introdução

O livro de Isaías, particularmente o chamado “Segundo Isaías”, é, sem dúvida, o mais belo exemplo da poesia profética do Antigo testamento. Isaías é inigualável por sua vivacidade espiritual e sua literatura tem inspirado evangelistas, teólogos e até mesmo estudiosos do comportamento humano. Salomão Ginsburg[1] relata ter se convertido lendo Isaías 53, episódio que o fez romper definitivamente com o judaísmo. O eunuco, mordomo-mor de Candace, lia o mesmo texto que Salomão Ginsburg quando foi abordado por Filipe[2]. Dietrich Bonhoeffer[3] recomenda ao destinatário de uma de suas cartas na prisão que pregue uma mensagem simples, baseada em Is 41:10. O psicanalista alemão Erich Fromm[4], no final de uma de suas obras, faz uso de uma de suas belas passagens (Is 43.19,20) com a finalidade descrever o estado ideal de paz, onde cessa todo o sofrimento e impulso de destruição.

A unidade do livro de Isaías e a atribuição da autoria da obra como um todo a um homem chamado Isaías, que teria vivido em Jerusalém, sempre foi aceita por judeus e cristãos. Mas foi apenas em 1755 que Johan Cristoph Doederlein defendeu a idéia de que a segunda parte teria sido escrita no cativeiro por um profeta cujo nome a história não registrara e que alguns chamam de “o Isaías da Babilônia”.

Essa hipótese tem suscitado polêmicas. Halley, por exemplo, diz que “Isaías morreu 150 anos antes da época de Ciro; todavia recebe aqui [no capítulo 41 de Isaías] uma visão da rápida conquista que este [Ciro] fez do mundo...”. Ele continua, dizendo que o segundo Isaías “é uma invenção da crítica moderna [5].

O fato de ter sido escrito por um, dois ou até mesmo três autores, não diminui ou torna menos inspirada a sua mensagem. A autoria do livro de Hebreus foi por muito tempo atribuída a Paulo e o livro de Salmos a Davi. Hoje sabemos que o autor de Hebreus é desconhecido e que o livro de Salmos tem vários autores, mas nem por isso esses livros deixaram de ter a importância religiosa que sempre lhes foi imputada.

II. Contexto histórico

O contexto histórico e geográfico do segundo Isaías é nitidamente diferente daquele narrado até o capítulo 39. Não se fala mais, a partir do capítulo 40 sobre a Assíria, o poder dominante do Oriente próximo no período de Isaías de Jerusalém. A diferença entre os dois momentos históricos é de cerca de 150 anos. O reino de Israel não existe mais e o povo de Judá se encontrava agora no cativeiro babilônico. Esta cidade ficou conhecida como herdeira dos sumérios e dos acádios, chamada de “o ornamento dos reinos, a altiva jóia dos caldeus” pelo profeta Isaías (Is 13:19). O legislador Hamurábi, a epopéia de Gilgamesh, o construtor Nabucodonosor, a torre de Babel (o zigurate de Etemenanki), os jardins suspensos, os palmeirais da cidade fortificada, a porta azul de Ishtar, tudo isso tornam Babilônia uma cidade quase mítica.

Mas o renascimento da Babilônia foi tão curto quanto explêndido. Os sucessores de Nabucodonosor II mostraram-se fracos e vacilantes. Amel Marduc, foi assassinado após dois anos de governo (562-560) e Neriglisar não reinou muito mais tempo (560-556). Nabônides, último rei da Babilônia, incorreu na cólera de muitos de seus compatriotas ao tentar substituir por outra divindade o supremo deus Marduk, e a discórdia religiosa que ele suscitou serviu para abrir caminho ao conquistador que tinha reputação de respeitar as tradições daqueles a quem submetia. Esse conquistador foi Ciro, rei dos persas, um povo que se tornara o poder predominante do Irã pelos meados do século VI a.C. Brilhante guerreiro e estadista invulgar, Ciro já havia constituído um enorme reino que ia da Índia à Líbia, no litoral Egeu da Ásia Menor. O nascimento e a juventude desse líder estão envoltos em lendas. Heródoto relata que o rei medo Astíages sonhou que de sua filha “saía uma torrente de água tal que não só encheu sua capital, mas que inundou a Ásia inteira[6]. O grego Xenofonte celebrou a fundação de seu reino num grande romance, a “Ciropédia”. Assim ele descreve Ciro: “era de estatura elegantíssima, de um coração cheio de benevolência, e muito amante da sabedoria e da honra[7]. Parece que o profeta Isaías não foi o único a lhe render elogios.

Enquanto Nabônides desfrutava do oásis de Teima, deixando como regente em Babilônia seu filho Baltasar, o poder de Ciro aumenta vertiginosamente. Começou sendo súdito dos medos; porém, com o auxílio de Nabônides, revoltou-se contra eles e inclusive conquistou a capital, Ecbátana, no ano de 553. Nabônides percebeu tarde demais o seu erro de prestar auxílio a Ciro. Faz aliança com Amásis do Egito e com Creso da Lídia para enfrentar à nova ameaça persa. No ano 547, Ciro marchou contra a Lídia, conquistou Sardes e se apoderou da maior parte da Ásia Menor (Schökel[8] levanta a possibilidade dessa campanha ter sido referida em Is 41,2-3; 45,1-3). Nos anos seguintes, Ciro estendeu seus domínios para leste a fim de assegurar-se contra possíveis invasões do centro da Ásia.

No outono de 539 a.C. Ciro tomou Babilônia quase sem luta, e o berço da civilização, agora debilitado, tornou-se parte do império persa. Mas esta última conquista desobedeceu inteiramente aos padrões estabelecidos; ela foi sem exemplo dentro dos métodos guerreiros do Antigo Oriente. Desta vez não se elevaram colunas de fogo atrás das muralhas destruídas, não foi arrasado nenhum templo ou palácio, nenhuma casa saqueada, ninguém foi massacrado ou empalado. O cilindro de barro de Ciro conta, em escritura babilônica, como as coisas ocorreram:

Quando entrei pacificamente em Babilônia e, entre manifestação de júbilo e alegria, estabeleci a residência da soberania no palácio dos príncipes, Marduk, o grão-Senhor, inclinou para mim o grande coração dos babilônios, porque eu me preocupava em honrá-lo diariamente. Minhas tropas numerosas percorriam Babilônia pacificamente, e não permiti que os sumérios nem os acádios fossem assustados por ninguém. Interessei-me pelo interior da Babilônia e por todas as suas cidades. Libertei os habitantes da Babilônia do jugo que não lhes convinha. Melhorei suas habitações arruinadas, livrei-os de seu sofrimento... Eu sou Ciro, o rei da coletividade, o grande rei, o rei poderoso, rei de Babilônia, rei dos sumérios, rei dos acádios, rei dos quatro cantos do mundo...[9].

Para o profeta Jeremias, Babilônia era “uma taça de ouro na mão de Yahweh, que embriagava toda a terra” (Jr 51,7), mas toda sua beleza, o “ornamento dos reinos, a altiva jóia dos caldeus” (Is 13:19), caíram nas mãos de Ciro e assim o sentimento de esperança ganhava força nos corações dos exilados, embalados pela pregação do Segundo Isaías.

III. A teologia do livro

Nos capítulos 40 a 55 começa a ressoar uma voz evidentemente nova no livro de Isaías. Cessam os dados autobiográficos; o estilo, unitário, não é mais o do Isaías que escreveu até o capítulo 39, embora se esforce em imitar suas formas. Trata-se de um poeta realmente refinado, só que mais retórico que o Isaías clássico; desdobra suas imagens em meio a repetições, fórmulas quaternárias. Possui descrições menos rigorosas; gosta dos hinos exultantes e dos oráculos de salvação, pois sente que a salvação começou no tempo presente. Com efeito, sua mensagem estimula os hebreus a voltarem para a Palestina, já assentados na Babilônia durante seu longo desterro. Mas este profeta deixou um rastro fundamental na teologia bíblica, revelando a eficácia da esperança e da palavra de Deus (é inesquecível o hino à “palavra” com que acaba seu livro: 55,10-11). Serão destacados a seguir três temas que merecem destaque na obra do segundo Isaías.

3.1 O Novo Êxodo

A designação do Ciro, o imperador persa, como novo “instrumento” da obra salvífica que Deus vai estabelecendo na história, é exaltado pelo profeta: “Sua espada os reduz a pó, seu arco os dispersa como palha” (41,2). O livro do Segundo Isaías está cheio de poemas em honra a Ciro (41,21-29; 44,24-28; 45,1-7; 45,9-13; 46,9-11; 48,12-15). Enquanto no Egito o faraó desempenhou papel principal, ainda que de forma negativa, na Babilônia não se menciona o seu rei nem lhe é oferecida possibilidade de atuar responsavelmente nos eventos.

A fé significa também reconhecer no presente a intervenção de Deus ao lado de um homem e de um povo. Assim, a fé é um arriscar-se seguindo os sinais dos tempos desde sua concretização histórica. Deste modo, a liberação que agora oferece Ciro é vista como um novo sinal da salvação; por isso a volta do desterro pode ser definida como “o segundo êxodo”. Isaías 40-55 é, como nos diz Schökel “o grande poema do retorno do exílio[10]. Se no primeiro êxodo Iahweh fez o mar se abrir, agora ele anuncia de forma gloriosa: “farei de todos os meus montes um caminho; e as minhas estradas serão exaltadas” (Is 49:11). Esta ação, o Senhor a realiza com a autoridade de "resgatador" (גָּאַל). Essa expressão, que se repete 17 vezes entre os capítulos 40 a 55 do livro de Isaías, tem o sentido de redimir, liberar, vingar ou assumir responsabilidade de parente. Usa-se basicamente à liberação de pessoas e propriedades vendidas para cancelar dívidas[11]. Assim, em virtude da sua solidariedade com o seu povo, Yahweh assume a tarefa de resgatá-lo, mas para isso não terá de pagar resgate, uma vez que atua como soberano e os seus filhos têm direito à liberdade.

O primeiro êxodo passa a ser para Isaías um tipo, visando prefigurar o novo Êxodo da Babilônia, que como antítipo supera escatologicamente o primeiro Êxodo. Essa saída é a nova fundação escatológica de Israel. Segundo Fohrer[12] é com o Dêutero-Isaías que começa efetivamente o profetismo escatológico. Isso demonstra que o primeiro êxodo, enquanto acontecimento em­pírico, tem limite e condicionamento, mas enquanto salvação divina, não se esgota, mas se supera a si próprio com vistas ao futuro. Como experiência religiosa e com múltipla formulação oferece-se de novo, anulando o limite e o condiciona­mento: a salvação de Deus, que penetra na história para nela se realizar, ultrapassa essa história com sua plenitude sem limites.

3.2 O monoteísmo

A supremacia divina sobre o cosmos é um dos temas prediletos do profeta, que introduz uma reflexão bastante explícita sobre a criação. Utiliza 16 vezes o verbo quase técnico bara (ברא), “criar” (p.ex., 41,4; 46,4; 48,12); mas a criação não é considerada sob um perfil filosófico: é o primeiro ato divino na história da salvação (Sl 136); por isso mesmo, como o êxodo, pode reatualizar-se agora no retorno de Babilônia, que é como uma recriação a partir do caos e do nada. O senhorio divino sobre os acontecimentos temporários se converte em um ato de confiança para os desterrados, porque eles sabem que o Senhor os sustentará em seu itinerário de reconstrução. Floresce então a polêmica anti-idolátrica que o Segundo Isaías desenvolve com grande satisfação e intensidade (40,19-20; 41,6-7.21-24; 44,6-20; 46,5- 6). Ao salvar, Yahweh demonstra que existe e que atua na história. O Deus criador e salvador é, portanto, a fonte da esperança que deve sustentar os desterrados que se preparam agora para seu êxodo da Babilônia. Mas para que esse êxodo ocorra será preciso vencer múltiplas resistências. Será preciso vencer a Babilônia, que confia nos seus deuses, acreditados pela vitória e pela grandeza do império, temíveis atrativos também para Israel. Um monólogo babilônico dedicado ao deus Marduk mostra o quanto essas divindades poderiam ser sedutoras para os israelitas:

Eu glorifico ao Senhor muito sábio, o deus razoável, Marduk,

que se irrita de noite, mas se calma chegado o dia...

Como a tormenta de um ciclone, envolve tudo com sua cólera,

depois seu fôlego se faz benévolo, como o zéfiro do amanhã.

Irresistível é primeiro sua ira, e sua raiva, catastrófica,

depois seu coração se amansa, sua alma se recupera.

Os céus não suportam o choque de seus punhos,

mas sua mão a seguir se apazigua e socorre ao desesperado...

Entra em cólera, e os sepulcros se abrem,

mas quando perdoa, restabelece às vítimas da carnificina...[13].

Mas Isaías lembra que essas divindades feitas pelo homem não tem valor: “nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar” (Is 45,20). Na mentalidade babilônica a estátua “encerrava” a divindade, como nos diz Bottéro:

Misteriosamente, mas realmente aos olhos dos fiéis, a imagem do deus “encerrava” sua pessoa e assegurava sua “presença real”. Em nome do mesmo “realismo” se deslocava, por exemplo, os deuses, sob a espécie de suas imagens, transportados, em carro ou em navio [...] para que visitassem outras divindades, ou inclusive as tombava juntas em sua “câmara” fechada, para que passassem juntas sua noite de bodas, como na “hierogamia” aos olhos dos fiéis[14].

.

Isaías então zomba dos ídolos e dos seus fabricantes, estabelecendo um sistema de contrastes entre a multidão do pan­teão babilônico e a intimidade do Senhor, entre a sua inércia e a atividade do Se­nhor. A oposição baseia-se em palavras comuns aos fabricantes, aos ídolos, ao Senhor. Assim, por exemplo: eles escolhem madeira, modelam um ídolo, fazem uma estátua; o Senhor escolhe homens, modela um povo, cria o universo; eles dão consistência à estátua, prendem-na com pregos, carregam-na sobre azêmolas; o Senhor dá consistência à terra, sujeita o seu enviado, carrega o seu povo; eles cansam-se, passam fome e sede, os braços ficam caídos; o Senhor não se cansa, antes comunica força ao que está cansado, sacia os famintos e os sedentos, ergue o seu braço vitorioso.

3.3 A mensagem de consolo

A crise da monarquia davídica, com o desmoronamento no ano 586 a.C, faz fracassar também o esquema messiânico “real”; as esperanças se concentram em uma presença de Deus através da palavra profética sobre a base da promessa de Dt 18,15.18. Também a figura enigmática do “servo de Yahweh” (título solene na Bíblia, aplicado a Abraão, Moisés, Davi, os profetas, Ciro, Israel, etc.), que o Segundo Isaías desenha em quatro poemas que se fizeram célebres, sobretudo na releitura cristã, adquirindo conotações proféticas. Assim, a salvação se levará a cabo de agora em diante, não através das estruturas davídicas, mas através do testemunho de um profeta ideal sobre cuja identidade exata é difícil se pronunciar. No primeiro poema (42,1-4), mediante uma fórmula de coroação, o servo é apresentado por Deus à corte celestial: o Espírito derramado sobre ele relaciona-se com a tipologia real (Is 11,1-2). Sua missão é a de anunciar a lei divina, ou seja, a revelação da vontade do Senhor, às “ilhas”, à humanidade inteira. O método é novo: já não há veemência nem julgamento, mas, um anúncio de graça e de esperança.

No segundo poema (49,1-6) é o servo o que fala em primeira pessoa fazendo sua auto-apresentação. A sua chamada é mediante a palavra, que é espada e flecha, quer dizer, uma realidade que toma a iniciativa. Como na vocação de Jeremias, está presente a objeção; mas o amparo de Deus, representada pela sombra de sua mão e pela “aljava”, acaba com toda a perplexidade, e o servo pode anunciar a salvação até os confins da terra. Cheio de alusões a Jeremias e às críticas que teve que suportar o terceiro poema (50,4-9), que revela um novo aspecto do servo: é uma pessoa que sofre, que é golpeado nas costas, apesar de ser o sábio por excelência ao ter sido constituído porta-voz da palavra de Deus. O desprezo que sofre é agressivo, com as cusparadas e o açoite. Entretanto, sai conscientemente ao encontro destas conseqüências de seu ministério, seguro da vitória pela cercania de Deus. Chega-se assim ao quarto poema (52,13-53,12), o mais famoso. O corpo do hino se desenvolve sobre a trama dos sucessos trágicos vividos pelo servo e alcança seu topo no contraste “humilhação-glorificação”. O servo nasce como um broto no deserto (Is 11,1; Jr 23,5-6; Jr 23, Jr 3,8); é portanto uma presença viva e gratuita em meio a um mundo morto. É um homem desfigurado e desprezado, já que sua tortura é considerada como signo de um julgamento por parte de Deus. Mas, na realidade, são os espectadores os que têm que confessar seu próprio pecado, que tem cansado sobre ele sem culpa alguma. O castigo seria nosso, mas a dor será dele. Sua entrega é total, com a docilidade de um cordeiro conduzido ao sacrifício; o que lhe aguarda é a morte e a sepultura (mesmo que neste aspecto não há acordo pleno entre os exegetas sobre o valor que terá que atribuir às imagens). Entretanto, “ele jamais cometeu injustiça nem houve engano em sua boca” (53,9). Mas a morte não é o desenlace definitivo para o que correu a vida do servo. Mais ainda, a morte faz brotar o mistério de fecundidade que aquele broto continha, e o justo contempla agora a luz e se sacia em Deus, que declara inocente a seu servo. Este ato de humilhação e de exaltação teve para os cristãos teve um nome concreto: Cristo e sua paixão, morte e glorificação. Com efeito, os evangelistas aplicaram este quarto poema à interpretação dos acontecimentos finais da vida terrena de Cristo e ao valor salvífico de sua morte e de sua ressurreição.


Notas:

[1] GINSBURG, Salomão. Um judeu errante no Brasil, 1970, p.25.

[2] Atos 8:30.

[3] BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão, 1968, p.171.

[4] FROMM, Erich. O dogma de Cristo e outros ensaios, 1965, p.160.

[5] HALLEY, Henry H. Manual Bíblico: Um Comentário Abreviado da Bíblia, 1971, p. 269.

[6] KELLER, Werner. E a Bíblia tinha razão, 2000, p. 260.

[7] XENOFONTE. Ciropédia, 1964, p. 18.

[8] SHÖKEL, L. Alonso; SICRE DIAZ, J. L. ,Profetas I, 1991, p. 270.

[9] KELLER, Werner, op cit. p. 262,263.

[10] SHÖKEL, L. Alonso; SICRE DIAZ, J. L.,op cit. p. 271.

[11] VINE, W.E., Merril F. Unger e William White Jr. Dicionário Vine, 2002.

[12] FOHER, apud GUNEWEG, 2005, p. 291

[13] BOTTÉRO, Jean. Lá religión más antigua: Mesopotâmia, 2001, p. 135.

[14] Ibid, p. 50,51.