Ontem, Geraldo de Araujo, via Facebook, após ler meu texto sobre o Pentateuco, perguntou-me se não é estranho que o nome “Jerusalém” não apareça no Pentateuco, caso consideremos que se trata de uma obra redigida no período da monarquia judaíta (séc. X – VI a.C.), como já sustentava Julius Wellhausen no final do século XIX. Em suma: se o Pentateuco é uma obra recente e não o produto do trabalho de Moisés, não seria de se esperar que o nome da capital de Judá aparecesse vez por outra na obra como projeção para o passado de uma condição presente?
Minha
resposta é sim. Acho que de alguma forma os teólogos de Judá deixariam
vestígios da crença que coloca Jerusalém como capital legítima do reino de
Israel. Há, em minha opinião, pelo menos duas “impressões digitais” no
Pentateuco que confirmam essa suspeita. A primeira é o nome “Salém”, em Gn
14,18, identificada pelo salmista (Sl 76,2) com Sião, local onde foi construída
a cidade de Davi (cf. 2Sm 5,7). O rei de Salém é Melquisedeque ("meu rei é Tzedeq" ou "meu rei é justo"), um misterioso
personagem que aparece no meio da narrativa. Você não acha estranho? Pois eu acho. A segunda “impressão digital”
encontra-se em Dt 16, texto que insiste que as três festas anuais (Páscoa, Pentecostes
e Tendas) devem ser celebradas num local específico (Jerusalém?) a ser
determinado por Yahweh após a tomada da terra. Curiosamente tal recomendação não aparece nos
quatro primeiros livros do Pentateuco e coincide com as medidas tomadas no
início do século VII por ocasião da reforma josiânica. Suspeito.
Bem,
isso é o que vejo. Mas há quem pense que estou vendo demais. Será?
Jones
F. Mendonça
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