Apesar de protestante, Carl Jung atribuía extremo valor a alguns elementos do culto católico. Não por uma questão doutrinária, mas pela importância vital que tais elementos tinham para a psiquê humana. Certa vez ele chegou a dizer que os católicos precisavam menos de seus serviços que os protestantes, devido ao caráter terapêutico da confissão feita ao padre.
Sobre a missa como repetição do sacrifício pascal, tão criticada por protestantes, Jung declara:
Na missa, Cristo é sacrificado como um ato atemporal do mundo exterior e ressurge sob a forma de substâncias transmutadas. O ritual de sacrifício de morte não é uma repetição do sacrifício histórico, mas o primeiro e único acontecimento eterno. A experiência da missa é, por esse motivo, a participação num momento de transcendência da vida, que resiste a todos os limites de espaço e tempo (GW 9/1, §209).
É preciso que algo fique claro. Jung não estava preocupado se tais práticas eram corretas do ponto de vista doutrinário ou se correspondiam a um fato histórico ocorrido no passado. Para ele, os ritos religiosos muitas vezes descrevem processos do inconsciente.
Além das religiões cristãs, Jung também se interessou por religiões orientais e pela alquimia, vista por ele como um modelo ou imagem da individualização (processo de amadurecimento e transformação da psiquê). Ele demonstrou que o simbolismo dos processos alquímicos se ritualiza em sonhos de pessoas que sequer sabem o que é a alquimia. Num caminho paralelo ao de Jung seguiu Mircea Eliade, famoso mitólogo e historiador das religiões. Na sua obra “Ferreiros e alquimistas” Eliade apresenta um conjunto de mitos, ritos e símbolos associados aos ofícios de mineiro, metalúrgico e forjador, cujos segredos se transmitem de geração em geração através dos ritos iniciáticos.
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