sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

REPENSANDO OS LIMITES TERRITORIAIS DO ANTIGO ISRAEL

Um tipo de expressão recorrente no Antigo Testamento para indicar todo o território pertencente a Israel é “de Dã a Bersabeia” (cf. Jz 20,1; 1Sm 3,20; 2Sm 3,10; 17,11; 24,15; 1Rs 4,25). Assim, a Bíblia sugere que essas cidades funcionavam como marcos fronteiriços desde o tempo dos juízes (século XII a.C.). Alguns arqueólogos, porém, argumentam que não há evidência de que a região de Dã era ocupada por israelitas nesse período (pertenceria aos arameus ou aos fenícios). Formularam então uma tese: Dã como limite fronteiriço ao norte e Bersabeia como limite fronteiriço ao sul correspondem ao território de Israel no século VIII. Os escritores bíblicos teriam projetado para um passado distante os limites de suas fronteiras atuais.  

Mas a descoberta de uma inscrição num jarro de cerâmica encontrado em Abel Beth Maacah (2Sm 20,14) - situado no antigo território de Dã - pode obrigar os arqueólogos mais céticos (como Israel Finkelstein) a repensarem suas conclusões.  Os responsáveis pela escavação estão dizendo que a inscrição "pertencente a Benayau" conteria um nome teofórico javista  e que deve ser datada para o século IX ou início do século VIII. Como sei que a datação e a diferenciação entre o hebraico antigo e o fenício não são tarefas tão simples, estou aguardando o pronunciamento do epigrafista Christopher Rollston em seu Blog. Também é importante aguardar a análise petrográfica, feita com o propósito de determinar o local onde foi produzido o artefato e descartar a possibilidade de que tenha sido adquirido numa transação comercial. 

Leia mais sobre a inscrição nesta matéria do Haaretz (jornal de Israel). Um banco de dados online com nomes teofóricos da idade do ferro encontrados na região ocupada pelo Antigo Israel pode ser acessado aqui


Jones F. Mendonça

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

TRADUZINDO PROVÉRBIOS

Pv 4,23, numa tradução literal, ficaria assim: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida”. “Guardar”, aí, não significa “esconder”, mas “preservar”, “observar com atenção especial”. Mas o que se guarda “no coração”? Os versos 20 e 21 respondem: “as palavras de ensinamento dos pais”. Uma tradução parafraseada do v. 23 ficaria assim: 
preserva com cuidado os ensinamentos dos teus pais, pois deles (dos ensinamentos) virão as soluções para a vida.
A NTLH erra ao traduzir o verso 23 assim: “Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos”. Não é para “ter cuidado com o que se pensa”, é para “cuidar bem dos ensinamentos dados pelos pais”, pois “deles virão as soluções para as vida”!


Jones F. Mendonça

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O SALMISTA, A PUPILA E A MENINA DOS OLHOS


Em diversas versões, o Sl 17,8 é traduzido assim: “Guarda-me como a menina dos olhos”. Versões inglesas como a King James preferem “maçã do olho” (apple of the eye). Quem tem razão?

Bem, a expressão hebraica do texto original aparece assim: “’iyshon bat ‘ayin”, que traduzido literalmente seria: “escuridão da filha do olho”. Como não há dúvidas de que essa expressão hebraica se refere à pupila, cada cultura traduziu a seu modo: No Brasil: “menina dos olhos” (pupila); nas versões inglesas: “maçã dos olhos” (pupila).

Mas por que em nosso país a pupila é chamada de “menina dos olhos”? Simples: em latim, pupila é a junção de “pupa” (menina ou boneca) + “ila” (um diminutivo). Os latinos sabiam que a região negra do olho é muito sensível, que precisava ser protegida. Daí que a batizaram como “pequena menina”.

Em países de língua inglesa a pupila passou a ser conhecida como "maçã do olho" por influência do trabalho atribuído ao Rei Alfredo de Wessex (século IX). Esse sujeito devia gostar muito de maçãs!



Jones F. Mendonça

LAMENTAÇÕES: DOIS VERSOS, QUATRO INFORMAÇÕES



O capítulo 4 de Lamentações possui 22 versos, cada qual começa com uma consoante do alfabeto hebraico (são 22, conforme a imagem). Os versos 20 e 21 nos dizem quatro coisas importantes: 1) O rei era tratado como “Messias” (ou Ungido); 2) A importância dada a ele é revelada pelo modo como era chamado: “o sopro das nossas narinas”; 3) A captura do rei pelos babilônios foi - por conta disso - algo desesperador; 4) Uz, a terra na qual vivia Jó, não ficava em Israel, mas em Edom.



Jones F. Mendonça