quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O MANUSCRITO DE ASHKAR-GILSON

Fora os amuletos de Ketef Hinnon (séc. VI ou VII a.C.) e o papiro de Nash (séc. II a.C.), os mais antigos textos da Bíblia hebraica são os manuscritos do Mar Morto (250 a.C. a 68 d.C.), descobertos a partir de 1947 em 11 cavernas na região de Qumran. Cópias de todos os livros da Bíblia Hebraica foram encontrados nessas cavernas, exceto Neemias e Ester.

Versões mais completas da Bíblia hebraica, dotadas de sinais massoréticos (sinais que ajudam na vocalização do texto), foram datados para os séculos X e XI, como o Códice Alepo (mais antiga, porém incompleta = 930 d.C.) e o Códice Leningrado (menos antiga, porém mais completa = 1008 d.C.). A lacuna entre os Manuscritos do Mar Morto e os códices medievais cobre um período de quase mil anos.

Um manuscrito pouco conhecido e pouco citado em obras especializadas é o manuscrito Ashkar-Gilson, adquirido por um negociante de antiguidades de Beirute em 1972. Com base na datação do carbono 14 e na análise peleográfica, o manuscrito foi datado entre os séculos VII e VIII d.C., exatamente na chamada “era silenciosa”, período marcado pela escassez de manuscritos da Bíblia hebraica. 

Embora o fragmento tenha surgido há mais de quatro décadas, foi ignorado pelos estudiosos por muito tempo. Ele exibe o chamado cântico do Mar (Ex 13,19-16,1), redigido com extremo cuidado.  O poema foi copiado em um layout simétrico especial que lembra uma parede de tijolos, com dois espaços em branco nas linhas pares e um espaço em branco nas linhas ímpares. Cada espaço marca o fim de um cólon (uma pequena unidade poética que deve ser cantada em uma só respiração). A importância deste layout reflete-se no fato de que ele é reproduzido em cada rolo de Torah usado nas sinagogas de hoje.

O manuscrito Ashkar-Gilson era a fonte das tradições massoréticas mais tardias e autoritárias? Para conhecer uma resposta para esta e outras questões, leia o artigo completo “Missing Link in Hebrew Bible Formation”, por Paul Sanders, publicado no Journal Hebrew Scriptures.



Jones F. Mendonça

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