Fora os amuletos de Ketef Hinnon (séc. VI ou VII a.C.) e o papiro de Nash (séc. II a.C.), os mais antigos textos da Bíblia hebraica são os
manuscritos do Mar Morto (250 a.C. a 68 d.C.), descobertos a partir de 1947 em
11 cavernas na região de Qumran. Cópias de todos os livros da Bíblia Hebraica
foram encontrados nessas cavernas, exceto Neemias e Ester.
Versões mais completas da Bíblia hebraica, dotadas de sinais
massoréticos (sinais que ajudam na vocalização do texto), foram datados para os séculos
X e XI, como o Códice Alepo (mais antiga, porém incompleta = 930 d.C.) e o
Códice Leningrado (menos antiga, porém mais completa = 1008 d.C.). A lacuna
entre os Manuscritos do Mar Morto e os códices medievais cobre um período de quase mil anos.
Um manuscrito pouco conhecido e pouco citado em obras
especializadas é o manuscrito Ashkar-Gilson, adquirido por um negociante de
antiguidades de Beirute em 1972. Com base na datação do carbono 14 e na análise
peleográfica, o manuscrito foi datado entre os séculos VII e VIII d.C., exatamente
na chamada “era silenciosa”, período marcado pela escassez de manuscritos da
Bíblia hebraica.
Embora o fragmento tenha surgido há mais de quatro décadas,
foi ignorado pelos estudiosos por muito tempo. Ele exibe o chamado cântico
do Mar (Ex 13,19-16,1), redigido com extremo cuidado. O poema foi
copiado em um layout simétrico especial que lembra uma parede de tijolos, com
dois espaços em branco nas linhas pares e um espaço em branco nas linhas
ímpares. Cada espaço marca o fim de um cólon (uma pequena unidade poética
que deve ser cantada em uma só respiração). A importância deste layout reflete-se
no fato de que ele é reproduzido em cada rolo de Torah usado nas sinagogas de
hoje.
O manuscrito Ashkar-Gilson era a fonte das
tradições massoréticas mais tardias e autoritárias? Para conhecer uma resposta
para esta e outras questões, leia o artigo completo “Missing Link in Hebrew Bible Formation”, por Paul Sanders, publicado no Journal Hebrew
Scriptures.
Jones F. Mendonça
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