“Vaidade das
vaidades, tudo é vaidade”, diz Qohelet (ou “o pregador”, em Ecl 1,2). Vaidade
aí é hevel = sopro, fumaça, névoa, como em Jó 7,16: “minha vida é um sopro (hevel), ou como em Zc 10,2 “os adivinhos oferecem consolações vãs (hevel)”.
Uma vez que a
palavra “vaidade” (=natureza daquilo que é vão, inútil) tem, nos dias de hoje, sentido
bastante restrito, geralmente designando alguém que se preocupa demais com sua
própria aparência, a tradução clássica “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”
acaba não reproduzindo bem o sentido do texto hebraico.
Quem lê o livro
com atenção percebe a tônica do seu discurso: “não há nada de novo debaixo do
sol” (Ecl 1,9), logo, “tudo, inclusive o que parece novo, inédito, é hevel,
névoa”. “Muita sabedoria, muito desgosto” (1,18), por isso “tudo, inclusive a
sabedoria, é hevel, neblina”. “Quem ama o dinheiro nunca está farto” (5,10),
daí a declaração “tudo, inclusive a riqueza, é apenas fumaça”.
O livro teria tom
pessimista e negativo se aconselhasse a abolição da vida, a supressão do prazer
ou o desprezo pelo mundo sensível, mas na verdade consiste numa “exaltação da
alegria” (8,15; ver ainda 52,24 e 5,18). Embora a vida pareça suspensa sobre o
vazio – diria Qohelet - viva-a com todas as tuas forças.
Jones F. Mendonça
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