1. Nos capítulos 4-8 do Segundo Livro dos Reis tomamos contato com as aventuras de Eliseu e seu servo, Geasi. O capítulo 5 registra uma história conhecida como “A cura de Naamã”, cujo desfecho é ao mesmo tempo cômico e dramático. Sentindo-se grato a Eliseu pela cura de uma doença, o general Naamã oferece ao profeta uma generosa recompensa, que é imediatamente rejeitada. Geasi, servo de Eliseu, pensou com seus botões: “Vou pedir essa recompensa em nome de meu senhor; ele nem vai desconfiar”. Mas o texto diz que “o coração de Eliseu andou com Geasi” até Naamã (5,26), ou seja, Eliseu percebeu a malandragem do moço.
2. Para surpresa de Geasi (e do leitor), Eliseu dá a seu servo uma resposta inesperada: “agora que recebeste a prata, pode comprar com ela vestes, olivais, vinhas, bois, servos e servas” (5,26). Eita! Então o golpe é válido? Não, não. Acontece que no verso seguinte Geasi recebe de seu mestre uma terrível notícia: “a doença de Naamã se apegará a ti e à tua posteridade para sempre” (5,27). E, de fato, é o que acontece: a doença de Naamã é transferida para Geasi. A história tem finalidade moralizante: 1) Um profeta não deve operar milagres em benefício próprio; 2) Jamais desrespeite um profeta (como a história das ursas, no cap 2).
3. De modo geral, todas as histórias envolvendo algum tipo de punição dirigida àqueles que se levantam contra um profeta têm a mesma finalidade: expor aos ouvintes dessas narrativas – indivíduos de um passado remoto – que determinado comportamento é considerado inaceitável. Note que na trajetória do êxodo Moisés tem sua capacidade de liderança desafiada diversas vezes. E todos aqueles que o desafiam ou morrem ou são punidos severamente. A leitura de histórias como esta no ambiente eclesiástico contemporâneo esbarra em diversos desafios, uma vez que a mensagem que o texto pretende comunicar é exatamente esta: não se meta com o "ungido" de Yahweh.
4. Não faltam líderes vendo a si mesmos como "Moisés", "Eliseu" ou "Davi", cuja autoridade, alegadamente dada diretamente por Deus, jamais poderá ser questionada.
Jones F. Mendonça
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