1. Noite, em hebraico, é laylah (לילה), funcionando como oposição ao “yom” (יום), o dia. Muito do que é narrado na Bíblia Hebraica acontece durante o período noturno. É durante a noite que dois anjos cobiçados pela população de Sodoma entram na casa de Ló (Gn 19,15). Na calada da noite as filhas de Ló cometem incesto com seu pai, dando origem aos amonitas e moabitas (Gn 19,34-35). Em uma noite muito estranha Saul entra em delírio extático e cai nu até o amanhecer (1Sm 19,24). Boaz, no meio da noite, estremece após encontrar Rute, toda perfumada, deitada aos seus pés (Rt 3,8).
2. Além de “noite”, o hebraico possui uma palavra específica para a transição entre o dia e a noite: o “crepúsculo da tarde”, ‘êrev (ערב). No fim de uma tarde, já mal iluminada pelo sol, Jacó toma Lia por engano. O pai da moça, que não era tonto, entrega Lia após um banquete, aproveitando-se não apenas do ambiente mal iluminado, mas também do juízo de Jacó afetado pela embriaguez. No fim da tarde, enquanto o sol se despede, Davi se debruça sobre o terraço e deseja Bat-shebah, mulher de Urias, que se purificava de suas regras (2Sm 11,1-5).
3. Além de “noite” e “crepúsculo da tarde”, o hebraico emprega uma variedade de palavras para indicar as trevas e a escuridão: ‘alatah, apelah, arapel, marshakh, neshep, ‘eypah e hoshekh. Na Bíblia Hebraica as trevas nem sempre funcionam como símbolo para o mal. Em Deuteronômio 5,22, por exemplo, Yahweh se dirige ao povo em meio às “trevas, nuvens e escuridão”. Do mesmo modo, em Êxodo 20,21, Moisés se achega "às trevas espessas onde Deus estava”. O Salmo 18 diz que Yahweh “faz das trevas o seu véu” (v. 11). Nas trevas Deus se esconde e Deus se revela: Deus absconditus et Deus revetus.
Jones F. Mendonça
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