Lecionar teologia da Reforma me obrigou a ler as Institutas, obra magistral do reformador francês João Calvino. Sua teologia, apresentada em quatro livros e 80 capítulos, é desenvolvida em torno da crença na absoluta soberania divina. Ainda que sua teologia não me agrade, é preciso reconhecer, Calvino é lógico, honesto e coerente em quase tudo o que afirma. Em minha opinião, sua grande falha lógica está aqui:
Onde ouves menção da glória de Deus, aí deves pensar em sua justiça. Ora, o que merece louvor tem de ser justo. Portanto, o homem cai porque assim o ordenou a providência de Deus; no entanto, cai por falha sua. [...] Logo, por sua própria malignidade o homem corrompeu a natureza pura que havia recebido do Senhor, e em sua ruína arrastou consigo à ruína toda a posteridade (As Institutas, Livro III, cap. XXIII, seção 8).
Para Calvino o homem peca porque Deus assim decretou, mas ainda assim é responsável por seus atos maus. Tal "decreto espantoso" não possui explicação, e não cabe ao homem questioná-lo. Surge uma nova pergunta: e Adão, o primeiro homem, também agiu de acordo com os propósitos divinos? Calvino explica:
O primeiro homem, pois, caiu porque o Senhor assim julgara ser conveniente. Por que ele assim o julgou nos é oculto. Entretanto, é certo que ele não o julgou de outro modo, senão porque via daí ser, com razão, iluminada a glória de seu nome (As Institutas, Livro III, cap. XXIII, seção 8).Para fechar, uma última declaração de Calvino (prepare-se):
Eu concedo mais: os ladrões e os homicidas, e os demais malfeitores, são instrumentos da divina providência, dos quais o próprio Senhor se utiliza para executar os juízos que ele mesmo determinou. Nego, no entanto, que daí se deva permitir-lhes qualquer escusa por seus maus feitos (As Institutas, Livro I, Capítulo XVII, seção 5).Você entende isso?
Jones F. Mendonça
Oi, Jones
ResponderExcluirPra mim, Institutas e Dungeons&Dragons, no fundo são a mesma coisa: racionalização de mitos, fantasia numa retórica lógica, mas sem fundamento na realidade, sem base empírica. Pelos menos os jogadores de RPG sabem que o conteúdo de seus manuais são pura fantasia.
Um abraço
Robson Guerra
Jorge Luis,
ResponderExcluirEm primeiro lugar, o Vaticanus é do século IV e não do II. Outra coisa, o Sinaiticus contém dois livros que não figuram nem no cânon protestante e nem no católico: O Pastor de Hermas e a Epístola de Barnabé.
Minha opinião: a escolha do cânon é uma decisão arbitrária. Cada comunidade religiosa escolheu o seu próprio cânon (cânon dos judeus de Alexandria, judeus de Jâmina, cristãos etíopes, cristãos católicos, cristãos gnósticos, cristãos protestantes, etc, etc).
Respondendo a pergunta: qual o cânon correto, o protestante ou o católico? os dois e nenhum dois dois!
Robson,
ResponderExcluirÉ, eu também acho que é por aí. O Deus de Calvino é muito sério, arbitrário, lógico. Gosto de um Deus que ri, que dança. Ah, mas não sou tão ingênuo. Sei que também fantasio.
É por estas e outras que cada dia a afirmativa de Ludwing Feuerbach faz ecoar o seu sentido "... Religião é antropologia...".
ResponderExcluirPois é Cristiano, quando o Robson comparou a religião de Calvino ao RPG, me lembrei justamente de Feuerbach.
ResponderExcluirAgora veja só, Calvino teve a coragem de dizer que o discurso sobre Deus acaba sendo uma antropomorfatização. No entanto, construiu toda sua teologia tendo como base conceitos que no fundo são meras abstrações teóricas: imutabilidade, soberania, eternidade, onisciência, etc.
Mais honesto foi Feuerbach: Deus foi feito a imagem e semelhança do homem.
Perfeitamente "...no princípio o homem criou os deuses...".
ResponderExcluirSou de comunhão anglicana,de formação calvinista e concordo plenamente com a linha teológica de pensamento acerca da predestinação segundo o reformador João Calvino.
ResponderExcluirIrmão Carlos Ayres Santos Fonseca
Aspirante ao Sagrado Ministério Ordenado da IEAB
não existe um ateu que no fundo do coração.. tenha o pensamento da eternidade..porque o próprio deus.. colocou esses pensamentos de eternidade no coração do homem...
ResponderExcluirdo mesmo jeito.. não existe um calvinista que no fundo do coração..e pensamentos.. que duvide da própria teologia da presdestinação....