terça-feira, 4 de janeiro de 2011

AS INÚMERAS FACES DE DEUS

Li uma bela citação de Heráclito (meu pré-socrático preferido) num livro de Paul Ricoeur que desejo compartilhar com os leitores. Eis a frase:
Um deus, vários nomes. Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome, mas ele muda como fogo quando misturado com fragrâncias: é nomeado segundo o perfume de cada uma delas (Heráclito, fragmento 67).
O texto me fez lembrar de duas passagens bíblicas que quando contrastadas refletem esse paradoxo. A primeira é um trecho do Salmo 18:
Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo devorador; dele saíram brasas ardentes.
Ele abaixou os céus e desceu; trevas espessas havia debaixo de seus pés.
Montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do vento.
Fez das trevas o seu retiro secreto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as espessas nuvens do céu.
A segunda é a teofania presenciada pelo Elias angustiado diante da perseguição imposta pela rainha Jezabel (1 Rs 19,11-12):
E eis que o Senhor passou; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto, porém o Senhor não estava no terremoto;  e depois do terremoto um fogo, porém o Senhor não estava no fogo; e ainda depois do fogo uma voz mansa e delicada.
Mas veio o exílio babilônico e depois Platão... e Deus foi dividido ao meio. Infelizmente.

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