sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O RELATO DA CRIAÇÃO E A IDEOLOGIA REAL ASSÍRIA

1. Leio “The Story of Paradise in the Light of Mesopotamian”, escrito por Arie van der Kooij. O autor defende que a condenação dirigida ao primeiro homem e à primeira mulher por terem comido da “árvore do bem e do mal” (ou “do certo e do errado”), funciona como crítica à ideologia real dos reis mesopotâmicos, particularmente dos assírios. Quer saber de onde ele tirou isso? Explico.

2. Kooij nota que a capacidade de “distinguir entre o bem e o mal” é um atributo real, tal como indica 2Sm 14,17: “o rei [referindo-se a Davi], meu senhor, é como um anjo de Deus, capaz de discernir entre bem e mal”. Aqui, ele destaca, essa capacidade é apresentada como algo positivo. Ora, se é assim, porque Gênesis condenaria uma dádiva tão nobre, tão necessária?

3. Ocorre que há textos na Bíblia Hebraica que criticam essa “capacidade”, vista como reflexo de uma postura arrogante e destrutiva. No livro do profeta Isaías, por exemplo, o rei assírio se gaba de oprimir as nações “com a força de suas mãos”, uma vez que possui “sabedoria e entendimento”. Em seguida vem o alerta: “seu coração é arrogante e soberbo” (Is 10,12-13).

4. É claro que o autor sustenta sua tese com outros argumentos, não mencionados nos pontos 1-3 deste post. O artigo completo, escrito por Kooij, pode ser encontrado na seguinte obra: DELL, Katharine J; DAVIES, Graham; VON KOH, Yee (Edit.). Genesis, Isaiah and Psalms: a festschrift to honour Professor John Emerson for his eightieth birthday. Leiden/Boston: Brill, 2010, pp. 3-22.



Jones F. Mendonça

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