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A rebeldia do monge agostiniano migrou para o campo
político. No fim de 1524 cerca de 30.000 camponeses na Alemanha meridional se
recusavam a pagar imposto ao governo, dízimos ou direitos feudais. Ousaram
criticar a servidão, dizendo que haviam sido “comprados e redimidos com o
precioso sangue de Cristo”. Inicialmente Lutero apoiou o grupo, mas depois
explicou que a liberdade que o cristão deve gozar é a espiritual:
Abraão e os outros patriarcas não tinham escravos? [...] Um reino terreno não pode sobreviver se nele não houver uma desigualdade de pessoas, de modo que algumas sejam livres e outras presas, algumas soberanas outras súditas (Lutero, Works, IV, p. 240).
As elites latifundiárias das colônias americanas do século
XVIII comportaram-se como Lutero. Usaram com toda a força ideias
revolucionárias para justificar sua rebelião contra o opressor, neste caso, a
Inglaterra (“qualquer um tem o direito de defender-se e de resistir ao
agressor”, John Locke) e ao mesmo tempo temeram que negros e pobres
interpretassem as ideias de liberdade como aplicáveis também a eles. Não
deixaram, como Lutero.
Moral da história? “Quae vult rex fieri, sanctae sunt
congrua legi” (vão as leis como querem os reis). Revolução legítima, só a das
elites...
Jones F. Mendonça
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