Quanto
à sujeição dos cristãos à lei judaica, o Livro de Gálatas registra as seguintes
palavras de Paulo: “nem mesmo Tito [...] foi obrigado a circuncidar-se, apesar
de ser grego. [...] Não nos submetemos
a eles [os judaizantes] nem por um instante“(Gl 2,3.5). Em Gálatas fica nítida a oposição que Paulo
faz a Pedro (2,12), a “alguns da parte de Tiago” (2,11)
e a Barnabé (2,13), todos com
tendências judaizantes. Supor que o motivo da separação ente João Marcos e Paulo na Panfídia
tenha sido a tendência judaizante do primeiro não chega a ser um desatino.
Mas o livro de Atos
mostra um Paulo mais ameno, longe da polêmica antijudaica. Em Atos 16,3 ele
circuncida Timóteo, um
cristão estimado em Listra, filho de mãe judia e pai grego. O motivo da sua não circuncisão na infância Lucas não diz, mas o motivo da circuncisão tardia está lá: “por causa dos judeus que viviam naquela
região”. A intenção não seria teológica, mas estratégica (Shaul entre
os judeus, Saulo entre os gregos e Paulus entre os latinos). Em Atos 18,18 Paulo
chega a fazer um voto de nazireu
antes de embarcar para a Síria, no norte da Palestina (veja também At 21,26). Ainda
que o apóstolo tenha dito em sua carta aos gálatas que não se submetera aos
judaizantes “nem por um instante”,
o livro de Atos parece registrar alguns momentos em isso aconteceu. O próprio
Paulo explica o que o motivou sua sujeição à lei entre os judeus: “tornei-me
como se estivesse sujeito à lei, a fim de ganhar os que estão debaixo da lei” (1Co
1,20).
Mas em diversas
passagens a posição de Paulo em relação ao valor da lei parece ambígua. Apesar
de afirmar que ninguém será declarado
justo pela obediência à lei (3,20), ele insiste que a lei não é anulada pela fé
(3,31). Ao mesmo tempo em que diz (citando Isaías): “apenas o
remanescente [de Israel] será salvo“ (Rm 9,27), num outro momento declara: “Todo o Israel será salvo” (Rm 11,26).
Confuso?
Há quem pense que
algumas cartas de Paulo sofreram remendos,
daí as “contradições” e “incoerências”. Outros defendem que Paulo jamais rompeu com o judaísmo.
Suas cartas, particularmente Romanos, deixariam clara sua posição: judeus convertidos
(como ele e Timóteo) devem seguir a lei, os gentios não. Por fim há os que
entendem ser Paulo um sujeito confuso,
atormentado pela tentativa de conciliar a prática da lei judaica com a salvação
pela graça.
Se
você se interessa pela teologia paulina e pelas questões apresentadas acima,
talvez queira de ler (em inglês) a última publicação da BAS (Biblical Archaeology Review): “Paul: Jewish Law and Early
Christianity” (Paulo: lei judaica e cristianismo primitivo). Eis um pequeno
resumo do conteúdo do Ebook apresentado
pelo site da BAS:
Nesta última publicação da BAS os melhores estudiosos bíblicos examinam o papel controverso da lei e da tradição judaica no cristianismo primitivo. Paulo, o apóstolo que escreveu a maior parte do Novo Testamento, discutiu o papel do judaísmo entre os seguidores de Jesus em uma série de cartas. Embora Paulo tenha pregado a justificação pela fé em Cristo, ele era fariseu e abordou o papel das tradições judaicas e da condição de Israel na nova aliança.
Jones F. Mendonça
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