Um
policial atira na perna de um rapaz acusado de seqüestro. O povo grita: "morte ao malfeitor!". A turba enfurecida esbraveja: “Direitos humanos, para quê precisamos dele?”. Nem a
lei de talião era tão cruel.
Compreendo
o comportamento do policial, cansado de ver bandidos levados aos tribunais
escaparem do martelo da condenação. Compreendo a aprovação do povo, indignado
com a impunidade. Mas compreender não significa aprovar.
A
culpa, dirão alguns, é do “Sistema” (com letra maiúscula mesmo!). O Sistema
seria uma espécie de força oculta, com vida própria. Uma espécie de Satã que
permeia todas as esferas da nossa vida, manipulando e corrompendo nossos belos
projetos para uma sociedade perfeita.
Admito
que a sociedade se desenvolva num complexo sistema de forças. Reconheço que o
policial, mal pago, mal equipado, mal formado e inserido num ambiente em que
reinam a crueldade e violência sem limites, seja levado a descarregar seu ressentimento
no gatilho de sua arma. É, aceito. Mas não
estaríamos projetando no Sistema falhas que são nossas?
Ao
dizer sim a comportamentos como este, a população estará dando ao policial o
poder de julgar, condenar e em alguns casos executar indivíduos sem o direito
de defesa. Hoje o tiro atinge um
bandido. Amanhã um inocente. Hoje a bala perfura a carne de um delinqüente.
Amanhã o peito do seu filho.
Quando
isso acontecer, a mesma mão que acariciou a áspide condenará o seu bote. E a
culpa será sempre do Sistema.
Jones
F. Mendonça
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