Continuação
(leia o post anterior clicando aqui).
Depois
de discorrer no quarto tópico sobre o domínio egípcio, Liverani passa a falar
sobre a “a ideologia egípcia” (pp. 38-42). Ele destaca que os reis locais da
Palestina se dirigiam ao Faraó como “Sol de todas as eras” e como “deuses” (no
plural, à semelhança do hebraico elohim).
Como demonstração de reverência prostravam-se “sete e sete vezes” (ou seja,
sete vezes de bruços e sete vezes de costas) diante do soberano
egípcio e declaravam-se “terreno do seu caminhar” e “escabelo sob seus pés”
(Liverani comenta sobre as figuras que ornamentam a sandália de Tutankamon, por
isso inseri uma foto sua, que não aparece no livro). Alguns textos produzidos
por reis cananeus e citados por Liverani falam por si só:
Ouvi as palavras do rei meu Senhor e meu Sol, e eis que protejo Megido, cidade do rei meu Senhor dia e noite: de noite eu protejo os campos com os carros, de noite protejo as muralhas do rei meu Senhor. Mas eis que é forte a hostilidade dos inimigos (habiru) no lugar (LA 88, de Megido).
Tudo o que sai da boca do rei meu Senhor, eu observo isso dia e noite (LA 12, de Ascalon).
Um
último ponto destacado por Liverani quanto às relações entre os reis cananeus e
o Faraó é a indiferença deste último frente aos pedidos de ajuda dos reis locais
para combater seus inimigos. Os reis cananeus estavam habituados a um sistema
de relações políticas baseado na reciprocidade, que não tinha correspondência
na ideologia egípcia. Liverani apresenta mais textos produzidos por reis
cananeus:
Vê: Turbasu foi morto na porta de Sile, e o rei ficou calado/inerte! (LA 41, de Jerusalém).
Saiba o rei meu Senhor que se salvou Biblos, serva do rei, mas é muito forte a hostilidade dos inimigos (Habiru) cntra mim. Não fique calado/inerte o meu Senhor em relação a Sumura, que não passe tudo da parte dos inimigos (habiru)! (LA 132, de Biblos).
Por
fim, Liverani conclui: “o único interesse do faraó estava em manter sob
controle o sistema, pois sabia muito bem que o eventual usurpador de um trono
local haveria de lhe ser tão fiel quanto o rei expulso e que, portanto, não
valia a pena ser defendido”. Para os reis cananeus Faraó era um “deus distante”,
de incerta confiança.
Continua aqui.
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