Leio
(bem devagar, pela falta de tempo): “Para além da Bíblia”, do assiriólogo Mário
Liverani (Loyola, 2008, 544 pg.). A obra é "uma tentativa nova de reescrita da história de Israel, levando em consideração os resultados da crítica textual e literária, as contribuições da arqueologia e da epigrafia, e não tendo medo nem de se afastar do fio condutor bíblico nem, vive versa, de permanecer num ambiente nitidamente histórico". As anotações que faço no livro serão
transportadas para o Blog. Do primeiro capítulo:
“A Palestina no bronze recente (século
XIV-XIII)”, fiz os seguintes apontamentos:
- Em “paisagens e recursos” (p. 27-31) Liverani destaca que a Palestina é ao mesmo tempo “modesta e fascinante”. Modesta em recursos naturais como água, recursos agropastoris, extensão geográfica, metais, madeira, pedras preciosas e número de habitantes. Quando comparada ao Egito, por exemplo, a região mostra-se extremamente modesta. Liverani cita um hino a Aton (LPAE, p. 414), no qual o Nilo é exaltado como um rio que “vem do além” para o Egito, ao contrário dos outros povos que podem contar apenas com o “Nilo do céu” (a chuva). Por outro a lado, destaca o autor, a Palestina é fascinante “pela estratificação simbólica das memórias”.
- Em relação à “fragmentação política” (p. 31-36), Liverani descreve a Palestina dividida em “Estados cantonais típicos” (como Ugarit), na qual reside um rei em seu palácio, rodeado por dependentes diretos: artesãos, guardas e servidores. A população estimada no Bronze recente (1550-1180) para o típico reino palestino é de 15 mil pessoas, contrastando com os cerca de 3 ou 4 milhões do Egito e os 2 milhões na Babilônia.
- Na “descontinuidade dos assentamentos” é destacada a concentração de pessoas em zonas mais adequadas para a agricultura no Bronze recente em relação ao Bronze médio e antigo. Em contrapartida as zonas semi-áridas e as colinas foram progressivamente abandonadas, tais como o sul de Hebron (Cisjordânia) e Madaba (Transjordânia).
- O quarto tópico trata do “domínio egípcio” sobre a Palestina, que cobre o período de 1460-c.1170 a.C. (o que parece inviabilizar uma fuga maciça de hebreus, cf. cap. 14 - "a fórmula do Êxodo"). O quadro fornecido pelas cartas de el-‘Amarna (c.1370-1350) mostra que somente três centros siro-palestinos eram sede de governos egípcios: Gaza, Kumidi e Sumura (abaixo um mapa que confeccionei baseando-me na figura 3 da página 37).
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