Tomás de Aquino diz com
muita coerência: “Deus não se move, pois movimento implica em mudança e Deus é
imutável”. Calvino, seguindo a lógica de Aquino (que é a lógica de Aristóteles),
diz que Deus não possui sentimentos: “quando
ouvimos que Deus se ira, não devemos imaginar que exista nele qualquer emoção”
(Institutas, Livro I, XVII, 13). Calvino chama isso de “antropomorfismo
pedagógico”, ou seja, quando lemos na Bíblia que Deus se compadeceu, se irou,
ou se arrependeu, devemos entender que essa é uma descrição do ponto de vista
humano. Deus não sofre, não muda. Jamais pode ser afetado pela ação humana.
Fico pensando: como os pastores calvinistas têm a coragem de
dizer diante de seus fiéis que Deus ama suas criaturas? Quem ama sofre! Quem
ama tem seu humor alterado! Na linguagem
do Antigo Testamento o “intestino de quem ama grita” (Jr 31,20). Mas para Calvino Deus é como um lago plácido,
impassível.
Eu aplaudiria Calvino caso ele levasse às últimas conseqüências
sua doutrina, afirmando que Deus é o
autor do mal e que ele não é amor. Lutero
e Calvino criticaram a escolástica por tentar esquadrinhar o coração de Deus. Mataram
uma górgona e criaram uma quimera. Seria muito mais honesto se tivessem seguido os passos do Xamã, que quando perguntado por sua filosofia ou teologia, respondeu: “não
tenho teologia ou filosofia, eu apenas danço”.
Jones F. Mendonça
O que Calvino explica é que Deus não se deixa influenciar por paixões e humores (como os humanos fazem) e então muda de atitude, como se não soubesse o que iria acontecer, ou como se Ele tivesse feito algo errado. Antes, enfatiza a soberania dEle: o Seu decreto eterno não muda. Calvino simplesmente deixa Deus onde Ele sempre esteve: no trono.
ResponderExcluirAbraço,
Leandro Teixeira
Leandro,
ResponderExcluirÉ verdade que no Livro I, XVII, 13 o foco da sua argumentação é o arrependimento divino (hb. naham), todavia, o que ele faz é negar que Deus possua qualquer sentimento. É uma consequência lógica. Neste ponto Calvino é honesto.
Mas é preciso mergulham um pouco mais fundo. Um Deus que ama é um Deus que muda, que sofre com a condição humana. O deus de Calvino não muda,não é afetado pelo sofrimento das suas singelas criaturas, portanto, não ama.
Na verdade Calvino não diz que Deus não tem sentimentos, mas sim que Ele não se deixa afetar por humores diversos na Sua ação na história.
ExcluirAlém disto, o homem não é uma singela criatura, que sofre injustamente. O pecado traz sofrimento, e neste quesito, ninguém é inocente perante Deus. O sofrimento provém do pecado, de uma forma geral.
Outra coisa, me explique melhor o seu entendimento do porquê que Deus precisa mudar Sua atitude perante o homem para que Ele seja um Deus de amor?
Leandro,
ExcluirDe acordo com Calvino o homem pecou porque Deus quis que pecasse:
"o homem cai porque assim o ordenou a providência de Deus; no entanto, cai por falha sua"(Livro III, cap. XXIII, sessão 8).
Fica a pergunta: como o homem pode ser responsável pelo pecado (e pelo sofrimento) se o próprio Deus determinou que isso ocorresse?
Em relação ao amor divino é preciso estar atento às Institutas. Calvino antromorfizou a ira de Deus (no A.T.), mas não o amor de Deus. Detalhe: a palavra hebraica para amor, naham, é a mesma para misericórdia.
Conclusão: o deus de Calvino é o mesmo deus dos filósofos gregos: não deseja, não se move, não ama.
Onde se lê:
Excluir"Em relação ao amor divino é preciso estar atento às Institutas. Calvino antromorfizou a ira de Deus (no A.T.), mas não o amor de Deus. Detalhe: a palavra hebraica para amor, naham, é a mesma para misericórdia".
Leia-se:
"Em relação ao amor divino é preciso estar atento às Institutas. Calvino antromorfizou o arrependimento de Deus (no A.T.), mas não o amor de Deus. Detalhe: a palavra hebraica para arrependimento, naham, é a mesma para misericórdia.
Na minha opinião Calvino, recém-convertido ao protestantismo de Lutero, portanto de pouca maturidade cristã, permeou suas Institutas de terminologias demasiadamente jurídicas para tentar "explicar" a soberania divina, transformando Deus num tirano. Sua "inspiração" não se origina de uma profunda e bem desenvolvida compreensão evangélica da Escritura.
ResponderExcluirConcordo com você!
ExcluirAh, uma "desenvolvida compreensão evangélica da Escritura" jamais passará de uma alegoria da Escritura, uma vez que não há nenhum sentido sistemático nos livros que a compõem. Só o caminho de Justino - o da alegoria - e nunca o de Marcião - a da leitura literal - pode criar alguma coisa como "compreensão evangélica da Escritura". Não é por outra razão que não há meia doutrina cristã que não seja sustentada integralmente em leitura alegórica.
ResponderExcluirHeber,
ResponderExcluirEu não acho que o problema de Calvino seja a terminologia jurídica ou a falta de maturidade. Agostinho criou, Lutero copiou e Calvino sistematizou. Se há algo admirável em Calvino é sua capacidade de sistematização.
O problema é que nas Institutas ele antromorfizou o arrependimento de Deus, mas não o seu amor. Vale dizer que a palavra hebraica para "arrependimento" e "compaixão" é a mesma. É neste ponto que Calvino tropeça.
Osvaldo,
ResponderExcluirMe intriga o fato dos teólogos sistemáticos buscarem uma teologia única nos livros da Bíblia. Vai entender...
Como uma mente finita pode sistematizar O Que Nunca Teve Princípio E Nem Fim?! É tentar sistematizar o insistematizável...
ResponderExcluirVia de regra, um teólogo sistemático primeiro cria pra si uma Bíblia, depois a lê. E não sou eu a dizer. Hans Küng disse que o único teólogo sistemático que tentou levar a sério a história (ele fala de metodologia histórico-crítica levada a sério) foi Schillebeeckx, e eu não vou desmenti-lo. Não é à toa que a Bíblia e a Teologia se separaram em "1787", para nunca mais. Está para nascer uma Teologia que seja verdadeiramente bíblica, mas, quando ela nascer, destruirá absolutamente a teologia como é ainda feita, e de tal sorte que muitos não a terão por "teologia".
ResponderExcluirHeber, o conteúdo inteiro do que você acaba de dizer já é pura sistematização de raciocínios teológicos e nada mais além disso... É isso que é preciso entender.
ResponderExcluirJones,
ResponderExcluirQuando se diz que "Deus é tardio em irar-se" esteja justamente traduzindo a falta de emoção em Deus. Se Deus se irasse emocionalmente (como o homem) Deus fulminaria imediatamente todo mundo de imediato, até porque ele não precisa esperar para ver se você vai mudar ou não.
Fomos feitos imagem e semelhança de Deus, mas não podemos correr o risco de fazer de Deus nossa imagem e semelhança. Ira, arrependimento, misericórdia, etc. nunca poderão se assemelhar perfeitamente à ira, arrependimento, misericórdia, etc. de Deus. Até mesmo porque Ele, em todas essas coisas, é perfeito; nós estamos corrompidos pelo pecado. Não se esqueça que há uma contaminação do pecado em cada um desses itens em discussão quando o ponto de partida é o homem.
Continuo achando que você está extrapolando o texto de Calvino indo além do que ele disse. Isso é imperdoável para um acadêmico, e para um professor de hermenêutica, nem se fala!
"Isso é imperdoável para um professor de hermenêutica". Aqui você mostra que não está disposto a um debate honesto, mas a me atacar.
ResponderExcluirVeja sua incoerência: Você admite que Deus não possui emoções e ao mesmo tempo diz que estou extrapolando a teologia de Calvino. Ora bolas...
Jones,
ExcluirPor favor, não estou dirigindo nenhum ataque direto. Você está dizendo que sou incoerente, e o que quis dizer foi o mesmo a seu respeito. Você está sendo incoerente na interpretação de calvino de uma forma "imperdoável" para um professor de hermenêutica. Há certos erros de leigos que não são esperados por alguém que sabe que não se deve fazer uma eisegese de nenhum texto, seja bíblico ou não; afinal, hermenêutica não serve apenas para os textos bíblicos. Concorda?
Eu li as institutas e não fiz o desdobramento que você fez, porque simplesmente não foi isso o que ele quis dizer. Você foi para além do texto! Parece-me que quem, na verdade, quer atacar outro aqui é você com seu ataque a calvino sem nenhum respaldo claro (hermenêutico/interpretativo, coisa que você deveria fazer com mestria). Quando digo isso não estou querendo fazer um ataque direto, mas apenas apontar uma falha grosseira de interpretação de quem não se espera isso.
Você como professor de hermenêutica já deve ter se deparado com alunos que sem conhecer as ferramentas da hermenêutica e sem prática nos métodos interpretativos que buscam uma leitura coerente e sólida dos textos bíblicos fazem interpretações absurdas, lendo o que não foi escrito. Isso é muito comum!
Quando adquirimos prática com a interpretação de textos, facilmente identificamos uma leitura equivocada e tendenciosa. Desculpe-me, mas foi essa a impressão que tive de sua leitura de calvino. Coisa que não esperava de um professor de hermenêutica. Posso estar enganado, e você também pode estar. Você mesmo disse que já não concorda mais com Gondim (graças a Deus), e quem sabe não mude de ideia quanto à sua leitura de calvino? Eu mesmo já mudei de ideia sobre um monte de coisas que eu julgava entendido. Você não?
Vou, de novo, direto ao assunto:
ResponderExcluir1) No meu texto digo que Deus não ama. Baseio-me no argumento de Calvino de que Deus não possui sentimentos como nós.
Até agora não entendi do que você discorda. Por favor, responda em poucas linhas.
Jones,
ExcluirPosso estar errado, mas parece-me que o arrependimento do homem se dá por algo que ele tenha feito de errado. Este, obviamente não pode ser o mesmo arrependimento divino, porque Deus não pode fazer nada de errado, faz parte de seus atributos. A ira humana é carregada de emoção e sentimentos, mas a de Deus é por justiça. Deus não julgaria um pecado movido por emoção para depois se arrepender. Acho que isso é o que calvino tencionou provar com esse paralelo. Mas você adiciona conclusões para dizer que Deus é desprovido de emoções e não ama. Calvino não foi até aí, e este é o primeiro desacordo.
O segundo é que o amar bíblico está mais para atitudes do que para emoções e sentimentos. Não é? Não foi isso que motivou os tradutores da Almeida Revista e Corrigida a escolherem traduzir amor por caridade? O amor ocidental pós-moderno é só sentimento, mas o amor bíblico é atitude. Estou errado?
André,
ResponderExcluirQuando veja meu filho sofrendo, isso vai me afeta. Ao tomar uma atitude para reverter essa situação, demonstro meu amor. Amor,no meu entendimento, deve envolver emoção e ação.
Deus, para Calvino, não é afetado pelas ações humanas. Não ama, segundo o que penso sobre o amor.
Talvez você tenha um conceito de amor diferente. Nossa discordância não será, neste caso, sobre a interpretação de Calvino, mas sobre nosso conceito de amor.
Qualquer pastor calvinista que diga às suas ovelhas que Deus não sente pesar, dor, que se entristece com o pecado ou com o sofrimento humano estará sendo honesto. O difícil é achar quem faça isso. Aí está o cerne da minha crítica.
De onde é esta conclusão: "Deus, para Calvino, não é afetado pelas ações humanas."?
ExcluirOra, André, um Deus imutável não pode ser afetado por elementos externos. É uma conclusão lógica.
ResponderExcluiro calvinismo só [ e quando não é divergente consigo] consistente para alguém que faz muita força para compreende-lo assim.
ResponderExcluirNinguém pode pregar o calvinismo a alguém que não tenha sido devidamente iniciado, pois qualquer um que se torne cristã jamais o percebe em sua leitura da bíblia.
Olá sr Jones!
ResponderExcluirVc crê que Deus É onisciente?Deus não pode se arrepender,porque para Ele não existe surpresas e imprevistos.
Você crê que a Bíblia é palavra de Deus ou somente contem? Estou perguntando, porque vc deixa transparecer isso nos seus artigos.
Suely
“O Deus revelado pelas escrituras é capaz de sentir tristeza e de ser entristecido. Ele tem reações reais para com a conduta humana. Não obstante, é impossível conceber o Deus onisciente a lamentar-se por algum falso movimento por ele feito. O arrependimento de Deus não é uma alteração quanto aos propósitos, e sim, uma mudança de atitude[SAILHAMER, John, Genesis. Pp.81.]”
ResponderExcluirUm Deus que é imutável e onisciente não pode mudar, seja em atitude, seja em propósitos. Isso me parece óbvio.
ResponderExcluirA expressão"arrependeu-se o SENHOR" está no real sentido de mudança de atitude, e não passa de uma indicação de que a atitude de Deus para com homem que peca é necessariamente diferente da atitude desse mesmo Deus para como o homem que lhe obedece.
ExcluirÉ...isso dá pano pra manga,não é mesmo?!
ResponderExcluir“Para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta” – Hb 6.18
É Claro que Deus tem sentimento...mas atribuir a Deus arrependimento é o mesmo que dizer que ele errou e isso é impossível.
A bíblia fala sobre Deus como se ele tivesse sentimentos humanos, tais como tristeza, alegria, raiva, alivio,sem que isso afete a sua perfeição divina.
Fica na Paz.
Suely
Suely, o que significa afinal dizer que Deus se arrepende? Norman Geisler dá uma resposta simplesmente certeira.
ResponderExcluirTem um trecho da Bíblia no qual Deus mudou de ideia quando Moisés rogou para que o povo fosse poupado. Ele explica que a situação mudou - de juízo pelo pecado, para misericórdia pela oração. Mudando a situação, Deus muda de atitude. Deus, em si, não mudou. O que mudou foi Seu relacionamento com o mundo.
Creio que esta é uma resposta bem melhor e mais elaborada do que as costumeiras parvoíces calvinistas...
Parabéns pelo trablho em defesa da bíblia.
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