Deus como criador. Bíblia de Lutero. |
Para o Antigo Testamento ele recorreu à Bíblia hebraica publicada na Bréscia, Itália, em 1474. A canonicidade dos livros vétero-testamentários de Tobias, Baruc, Judite, Sabedoria, Eclesiástico e Macabeus foi questionada (mas não negada). Eles foram colocados num apêndice não numerado trazendo a seguinte observação: “Estes livros não estão em pé de igualdade com a Escritura Sagrada, mas ainda assim são proveitosos e bons de se ler[2]”. Num prefácio ao livro de Judite escreveu: “Por isso este livro é um excelente, bom, santo e útil, certamente digno de ser lido por nós, cristãos”[3]. Tais livros foram excluídos na Confissão Galicana de 1559 e na Confissão Belga de 1561[4]. A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira decidiu omiti-los de suas Bíblias a partir de 1827[5].
Para o Novo Testamento foi consultado o texto grego de Erasmo. Os livros de 2 Pedro, 1 e 2 João, Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse também tiveram sua autoridade questionada pelo reformador[6]. Eles foram colocados depois dos demais livros, que ele considerava como sendo “os verdadeiros, seguros e mais importantes do NT”[7]. Tiago foi chamado de “epístola de palha” e Judas de “epístola desnecessária”[8]. Tais livros foram, mais tarde, reinseridos no cânon tradicional pelos reformadores[9]. Lutero entendia que o cânon não deve ser definido baseando-se nas tradições da Igreja nem por demonstração histórica, mas pelo fato de pregarem a Cristo[10]. Nas palavras de Lutero: “Tudo aquilo que Cristo não prega não é apostólico, mesmo que seja escrito por São Pedro ou São Paulo... Tudo aquilo que Cristo prega seria apostólico mesmo que procedesse de Judas, Pilatos ou Herodes”[11].
Como se vê, Lutero fazia uma leitura seletiva da Bíblia. Caso determinado texto estivesse de acordo com sua teologia, o livro era aceito, do contrário, ou era rejeitado ou recebia um valor menor no cânon. Lutero pelo menos era honesto...
Notas:
[1] Lutero, o escritor, volume III, p. 122.
[2] SCHOLZ, Vilson. Princípios de interpretação bíblica, p. 22.
[3]V.8, 28-33; cf. Bíblia de Lutero, edição de 1545, in loco apud Lutero, o escritor, volume III, p. 125, 126.
[4] DEL RIO, Javier Quezada. Los hechos de Dios: que es la Bíblia, p. 38.
[5]LIMA, Alessandro Ricardo. O cânon bíblico: a origem da lista dos livros sagrados, p. 91.
[6] BRAATEN, Carl E.; JENSON, Robert W. Dogmática cristã, volume I, p. 81.
[7] VV.AA. Lexicon: dicionário teológico enciclopédico, p. 90.
[8] PARTINGTON, George. Estudios de doctrina cristiana, p. 30.
[9] VV. AA. Lexicon: dicionário teológico enciclopédico, p. 90.
[10] FEINER, Johannes. Mysterium Salutis: Manual de teología como historia de la salvación, p. 433.
[11] DURANT, Will. A reforma, p. 310.
[9] VV. AA. Lexicon: dicionário teológico enciclopédico, p. 90.
[10] FEINER, Johannes. Mysterium Salutis: Manual de teología como historia de la salvación, p. 433.
[11] DURANT, Will. A reforma, p. 310.
Jones F. Mendonça
Ótima sequência de postagens..
ResponderExcluirAbraços!
Will
Muitos textos bíblicos entraram no cânon, mas, não passam de relatos históricos e observações de extrema peculiaridade cultural. O que acha?
ResponderExcluirAbraços,
Olá Will, é sempre bom vê-lo por aqui.
ResponderExcluirAlliadoo,
E que textos seriam estes? Não entendi bem o que quis dizer.