Portarretrato de Julio II, 1512, Raffaello Sanzio |
A cena acima foi retratada no filme Lutero. Mas quem é este Papa que traz por baixo da batina as cicatrizes da guerra?
Juliano della Rovere, Julio II, foi um Papa de grandes realizações. Numa mão tinha as chaves de São Pedro, noutra a espada de São Paulo. Na época do seu pontificado a autoridade papal se encontrava abalada pelo cisma de Avignon, por isso não mediu esforços para obter dinheiro visando aumentar seu poder. Vendeu indulgências, praticou a simonia (venda de cargos eclesiásticos), contratou artistas do calibre de Michelangelo e Rafael para decorar a nova Basílica de São Pedro e liderou um exército contra os feudos rebeldes de Perugia e Bolonha. Os cardeais ficaram chocados com o espírito guerreiro do Papa Terribile.
Uma figura que não deixou passar em branco os excessos de Julio foi Erasmo de Roterdã. Influenciado pela ironia ácida de escritores latinos como Luciano de Samosata, que ele traduzira para o alemão com tanto prazer, Erasmo escreveu uma sátira chamada Iulius exclusus, na qual empregou todo o seu sarcasmo para debochar da arrogância papal. Na sátira, Julio encontra-se às portas do paraíso discutindo com São Pedro, que impede sua passagem:
Julio: Basta. Sou Julio o ligurino, P.M...
Pedro: P.M.! Que é isso? Pestis maxima?
J: Pontifex Maximus, “seu” velhaco.
P: Se você é três vezes Maximus... não poderá entrar aqui se não for também Optimus.
J: Impertinência! Você, que não foi mais que um Sanctus em todas as eras – e eu Sanctissimus, Sanctissimus Dominus, a própria Santidade, com bulas para prová-lo.
P: Não há diferença entre ser santo e ser chamado santo?... Deixe-me olhar um pouco mais de perto. Hum! Sinais de impiedade em abundância... Batina de padre, mas armadura ensanguentada por baixo; olhos ferozes, boca insolente, testa impenetrável, corpo cheio de cicatrizes de pecados, hálito carregado de vinho, saúde esgotada pela libertinagem. Ai, me ameace quanto quiser, vou dizer-lhe quem é..., É Julio, o Imperador que voltou do inferno...”[1].
Ao guerreiro, colérico e impetuoso Julio II sucedeu o pacífico e indulgente Leão X, o Papa que excomungou Lutero. Erasmo queria uma reforma moral. Lutero uma reforma doutrinária. Confesso que estou mais para Erasmo. Identifico-me com seu humanismo, com sua tolerância, com seu repúdio às especulações teológicas sem sentido. Mas, enfim, deu no que deu...
Nota:
[1] DURANT, Will. A Reforma, p. 235.
Pois este é o Papa que mais admiro. Se todos agissem firmemente como ele, o mundo não estaria doente, tomado pelas chagas putrefatas composta pelas seitas que se derivaram do protestantismo. Mas um dia todos os cristãos pensarão como eu, e em nome de Deus, as Seitas podres serão exterminadas da História da Humanidade pelo triunfo do Cristianismo único.
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