Na semana passada Dov Lior, rabino chefe de Kiryat Arba, foi detido pela polícia israelense por ter endossado o conteúdo do livro “Torat Hamelekh” (O rei da Torá, de autoria do rabino Yitzhak Shapira), que prega, dentre outras coisas, a morte crianças árabes, caso representem uma ameaça ao Estado judaico. A detenção do rabino foi vista como uma ofensa por parte de judeus ultra-ortodoxos. Dov Lior é ligado a yeshiva hesder, um programa que combina estudos talmúdicos com o serviço militar. Combinar religião e violência não é coisa exclusiva do islamismo como é geralmente enfatizado na mídia ocidental.
Ontem (04-07-11) o Haaretz publicou um artigo refletindo sobre as origens da intolerância religiosa cultivada por alguns rabinos em israel. Quem assina o artigo, intitulado “Rabbi Lior's racism is not his fault” (“O Rabino Lior não é culpado por seu racismo”), é Salman Masalha. Apesar de discordar de alguns pontos defendidos pelo autor (como a de que o monoteísmo é essencialmente intolerante), o texto chama atenção para alguns detalhes interessantes. Masalha destaca, por exemplo, que o famoso “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18) se refere apenas aos judeus, considerando que a primeira parte do versículo diz “Não tomarás vingança, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas...”. Ele explica que essa interpretação é corrente entre os estudiosos da Halakha (lei judaica) e cita vários exemplos, como o de Maimônides, sábio judeu do século XII. Segundo Maimônides, o “próximo” presente no versículo se refere apenas aos membros da Casa de Israel que seguem a Torá e seus mandamentos, e que o texto é uma mitsvá (mandamento) para odiar alguém que não aceita a Torá.
É assustador pensar que muitos militares que compõem as Forças de Defesa de Israel atualmente tiveram seu pensamento moldado de acordo com a cartinha de pessoas como Dov Lior. Os ultra-ortodoxos são minoria em Israel, mas gozam de grande influência.
Jones F. Mendonça
Jones F. Mendonça
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