sexta-feira, 10 de junho de 2011

ESSES CÓDIGOS LINGUÍSTICOS...

"Jesus e a mulher samaritana no poço", Guercino (1640-1641)
Museu Thyssen Bornemisza, Madrid 
No caminho para o trabalho costumo passar numa padaria. Na semana passada, enquanto levava para o caixa meus três pãezinhos numa sacola ouvi um rapaz dizer: "me vê dois reais mais um real de pães". Como?! Ora, se dois mais um são três, por que não dizer simplesmente: "me vê três reais de pães". Já distante do rapaz, mas ainda sendo capaz de ouvi-lo, escutei a explicação: "um real de pãezinhos numa sacola e dois reais numa outra". Ah, agora sim.  Ele estava fazendo uma gentileza para sua vizinha, por isso os saquinhos separados. Como o padeiro era novo, não entendeu o código. 

Fiquei pensado no texto bíblico. Imaginei Jesus no norte da Palestina do primeiro século falando em aramaico a um grupo muito seleto de pessoas, como pescadores. Ele diz algo a um jovem e faz uso de um código linguístico restrito ao universo dos pescadores. Alguém ouve, diz para outra pessoa, que mais tarde é consultada por alguém como Lucas. Ele traduz a fala de Jesus para o grego. O texto é reproduzido manualmente em diversos idiomas por copistas até que ganha a forma impressa no século XV. Mas os papiros, pergaminhos e códex divergem entre si sobre esta passagem. Discute-se o artigo, a preposição, o verbo, o adjetivo. É... agora eu acho que dá para entender o porquê de tanta confusão entre os exegetas... 


Jones F. Mendonça

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