Por Jones Mendonça
No ano 79 d.C. a cidade de Pompéia foi soterrada pelo Vesúvio. Os primeiros vestígios da cidade foram encontrados em julho de 1738 por operários que cavavam a fundação do palácio de verão para Carlos Bourbon, rei de Nápolis.
Para Carl Marx a destruição de Pompéia teria inspirado João na sua descrição do fim do mundo presente no livro bíblico do Apocalipse[1]. Como ocorreu com a Pompéia do primeiro século, o fim dos tempos apocalíptico se dá pelo fogo.
Para Pierre Prigent [2] essa teoria se torna totalmente improvável quando se podem apresentar numerosos paralelos literários com a apocalíptica pré-cristã. Um exemplo é o livro de Enoc, escrito no século II a.C. que fala de “sete estrelas como que grandes montanhas abrasadas” (cf. En 21,3ss e 108,4).
É verdade que a linguagem do livro do Apocalipse está impregnada de símbolos retirados da literatura apocalíptica judaica (apócrifa e canônica), tais como estrelas que caem do céu, nuvens negras que escurecem o sol, etc. Mas não é impossível que as informações sobre a erupção do Vesúvio tenham chegado até João e contribuído para tornar suas visões apocalípticas sobre o fim do mundo ainda mais coloridas. O vigor do Vesúvio chegou até nós pelas cartas de Tácito, que registrou os relatos recebidos de Plínio, o Jovem. Ouçamo-lo:
“Naquela noite o tremor cresceu de tal maneira que parecia não mexer as coisas, mas girá-las... (Carta VI, 20, 3).[3]”
“Uma nuvem se formava, mas observada a distância não se sabia ao certo de qual montanha, cujo aspecto e forma nenhuma outra árvore reproduziria melhor do que um pinheiro (Carta VI, 16, 5).[4]”
Ao contrário do que muita gente imagina a mensagem do Apocalipse é de esperança e não de condenação. O império romano, visto como opressor e cruel, estaria com seus dias contados. Enfim, a mensagem é a de que nenhum governo arrogante e iníquo é eterno.
Ironicamente numa das paredes de Pompéia lê-se o seguinte grafito:
“Nada dura para sempre;
Mesmo brilhando como ouro,
O sol tem que mergulhar no mar.
A lua também desapareceu
Embora reluzisse até há pouco”[5].
Essa é uma mensagem que merece uma profunda reflexão.
O Google Street View (Google vista da rua) permite que você visite as ruínas da cidade de Pompéia em 3D. A resolução das imagens é incrível.
Notas:
[1] PIGNATARI, Décio. Semiótica da arte e da arquitetura. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004, p. 60.
[2] PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. São Paulo: Loyola, 1993, p. 162.
[3] FEITOSA, Lourdes Conde. Amor e sexualidade: o masculino e o feminino em grafites de Pompéia. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2005, p. 55.
[4] Id. ibid.
[5] BUTTERWORTH, Alex; LAURENCE, Ray. Pompéia. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 11.
Imagem:
Uma das ruas de Pompéia vista pelo Google Street View.
Prezado Professor Jones.
ResponderExcluirNo meu entender o apocalipse de João estaria mais ligado à erupção da Ilha de Santorini(Thera). Provas arqueológicas de uma civilização avançada sofreu uma catástrofe violenta na região de uma cadeia de ilhas do mar Egeu, incluindo a ilha de Pátmos estando próxima. As ligações me parecem muito fortes. Deus seja louvado!