Pseudo-Barnabé, autor cristão de uma epístola escrita no
final do século I, tenta explicar as razões da restrição à carne de lebre e de
hiena, como prevista (apenas a da lebre) nos livros bíblicos de Levítico e Deuteronômio
(Lv 11,6; Dt 14,7). Saiu-se com esta:
Também "não comerás a lebre". Por que razão? Isso quer dizer: não serás pederasta, nem imitarás aqueles que são assim. Porque a lebre, a cada ano, multiplica seu ânus. Ela tem tantos orifícios quanto o número de seus anos. Também "não comerás a hiena". Isso quer dizer: não serás nem adúltero, nem homossexual, e não te assemelharás àqueles que são assim. Por que razão? Porque esse animal muda de sexo todos os anos e torna-se ora macho, ora fêmea (Epístola de Barnabé, X).
Ao final vem a explicação de seu método de interpretação: “Moisés,
tendo recebido tríplice ensinamento sobre os alimentos, usou linguagem
simbólica. Eles [os judeus], porém, o entenderam sobre os alimentos materiais,
por causa do desejo carnal”.
A história da dupla sexualidade das hienas é conhecida desde a antiguidade. Aristóteles (alguns séculos antes do pseudo-Barnabé) já havia demonstrado em De generatione animalium e Historia animalium (Arist. Ga 3.6, 757a7-12) que tal percepção não passa de uma ilusão de ótica.
Jones F. Mendonça
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