quarta-feira, 17 de março de 2010

TEÓLOGO CATÓLICO ARGENTINO NEGA HISTOTICIDADE DE ADÃO E EVA, APARIÇÃO DE ANJO E DE VIRGEM MARIA.

Acho interessante como a maioria dos líderes da igreja cristã (seja ela católica ou protestante) fazem de tudo para esconder dos fiéis formulações teológicas que já são praticamente consenso entre os teólogos. Admiro a coragem do biblista e teólogo Ariel Alvarez Valdés em renunciar ao sacerdócio por se recusar a negar suas idéias. Ele é mais um na lista dos teólogos católicos perseguidos pelo Vaticano, tais como Edward Schillebeeckx (a favor da ordenação feminina e de homens casados), Hans Küng (criticou a hierarquia da igreja), Eugen Drewermann (crítica ao celibato), Charles Curran (a favor de métodos contraceptivos), Jacques Dupuis (universalista) e Leonardo Boff (questionou a hierarquia e o papel da igreja). Alguns desses homens foram chamados de hereges, mas como dizia Rubem Alves: “heresia e ortodoxia são palavras criadas pelos ortodoxos. Mas [...] ortodoxos são aqueles que tiveram o poder para impor suas idéias”.

Transcrevo abaixo parte da entrevista feita com Ariel Valdés publicada pelo IHU.

O que o senhor defende acerca do relato de Adão e Eva?
Que não é um relato histórico. O autor que o escreveu não sabia nem pretendia ensinar como o homem apareceu sobre a Terra. O que a Bíblia sabe é de onde o homem veio: das mãos de Deus. Como ele apareceu, se foi ou não como a teoria da evolução propõe, é assunto dos cientistas. O relato de Adão e Eva procura destacar a grandeza de um homem e de uma mulher criados por Deus: ninguém pode abusar de outra pessoa, por mais humilde que seja, já que em todo o ser humano reside a imagem de Deus.

E qual é a doutrina oficial da Igreja a respeito?
A imensa maioria dos teólogos defendem o que eu acabo de dizer. De fato, o Vaticano me enviou uma carta em que reconhecia que minha posição era correta, mas questionavam o fato de divulgá-la ao grande público, em vez de circunscrevê-la a livros técnicos de difícil acesso.

Outros pontos de discrepância se referiam à figura de Maria.
Não é verdade que o anjo Gabriel tenha "aparecido" a Maria, como um senhor que entrou voando pela janela: se tivesse sido assim, Maria não teria tido oportunidade para expressar sua fé. Se realmente tivesse visto o anjo, não se trataria de fé. Na realidade, o anjo simboliza a voz de Deus no coração de Maria.

Outro ponto era a sua negativa em admitir "aparições" da Virgem Maria.
Os mortos, segundo a Bíblia, não podem voltar à Terra. Aquele que morreu não volta, e o que voltou nunca morreu. Essas histórias que Víctor Sueyro recompilava, de túneis, luzes e música, correspondem ao aquém: ninguém volta do além. Então, a Virgem Maria não pode "aparecer", não pode se apresentar fisicamente a ninguém. Alguém pode ter uma visão da Virgem Maria, que ocorre na retina da pessoa, mas não no exterior.

O senhor também propôs que os chamados estigmas não são sinais de santidade, nem provêm de Deus.
Lamentavelmente, muitos acreditam que são sinais de santidade enviados por Deus. Mas não podem vir de Deus, porque doem muito. Um estigma é terrivelmente doloroso, é uma fenda na mão. Deus é amor e bondade e não pode mandar feridas às pessoas. Os estigmas vêm dos desequilíbrios mentais das pessoas: cientificamente, a mente humana pode ter um poder despótico sobre o organismo. Da mesma forma, muitas pessoas continuam pensando que Jesus nos salvou com a sua morte na cruz e que, senão, não teria nos salvado. Quer dizer que Ele contratou Pilatos para que o condenasse, a Pedro para que o negasse, a Judas para que o traísse? Se Judas não o tivesse entregue, Ele não teria nos salvado? Jesus teria nos salvado da mesma forma, mesmo que tivesse morrido velhinho em sua cama. Porque ele nos salva por meio do amor, não da dor.

4 comentários:

  1. Olá,

    Gostei da imparcialidade de seu blog e de seu interesse em postar, mesmo como bacharel em teologia, artigos que se manifestam contrariamente ao que a tradição da igreja nos ensina. Desde já meus parabéns. Há um certo tempo venho tido muitas dúvidas, por conta de informações como essa, de como vocês que estudam teologia, ainda que cientes dos equívocos manifestamente propagados pelo cristiaismo, mantém sua fé na existência de Deus. Como fazem ? Além do lado subjetivo, pautado na crença, existe alguma forma racional que os leve a crer tanto em Deus quanto na ressureição de Jesus cristo e vida eterna ? Por favor, não me considere uma crítica à fé. De modo algum quero transparecer isso. Estou lendo textos de Leonardo Boff e nos últimos dias, descobri a leitura de N.T Wright, que dizem ser um grande estudioso do Novo Tetamento. Você o conhece ? O que acha dele? Se puder me ajudar a encontrar respostas verdadeiras às minhas perguntas, ficarei muito grata.

    Uma boa Páscoa.

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  2. Caro anônimo, primeiramente eu gostaria de agradecer a sua participação.

    Sobre a sua primeira pergunta: “Como manter a fé apesar das distorções propagadas pelo cristianismo?”, eu diria que minha fé não se alicerça em instituições ou líderes, por isso ela não pode ser abalada pelos erros cometidos por representantes oficiais da igreja. Mas sei que há pessoas que acreditam na existência de representantes oficiais da igreja na terra. Respeito esse ponto de vista, mas não penso assim.

    Sobre a segunda pergunta: “existe alguma forma racional que os leve a crer tanto em Deus quanto na ressurreição de Jesus cristo e vida eterna?”, não acho que exista uma forma racional que possa levar uma pessoa a crer na ressurreição ou na vida eterna. Há teólogos como Paul Tillich (protestante), Rudolf Bultmann (protestante), Leonardo Boff (católico que você citou) e Dominic Crossan (também católico) que sequer insistem numa ressurreição histórica (real) de Jesus. Para eles o que importa é o símbolo da ressurreição, capaz de animar a igreja na sua esperança por dias melhores, e até mesmo pela vida eterna. Lembro que essa forma de enxergar a ressurreição não recebe aprovação do Vaticano e nem da grande maioria das igrejas protestantes (como não conheço a sua confissão religiosa acho que devo deixar isso bem claro).

    O anglicano N.T Wright, por exemplo, insiste numa ressurreição literal de Jesus. Confesso que nunca li nenhuma de suas obras, mas já ouvi boas referências a seu respeito. Sobre Leonardo Boff, eu poderia dizer que acho magnífica a forma como apresenta o cristianismo. É uma pena que o Vaticano o tenha compreendido tão mal (Como aconteceu com Ariel Álvarez Valdés, teólogo citado no artigo).

    Agora cá entre nós, se me pedissem as razões da minha fé eu diria que não possuo nenhuma. O Cristianismo me seduziu, assim como uma mulher seduz um homem ou como uma criança é seduzida por um presente inesperado. É puro encanto.
    Gosto da reação do profeta Jeremias após ter sido chamado por Deus:

    Jr 20,7 -“Seduziste-me, ó Senhor, e deixei-me seduzir; mais forte foste do que eu, e prevaleceste”.

    Não tenho respostas prontas (Jesus também não as tinha!). De qualquer forma espero ter ajudado.
    Deus te abençoe!

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    1. Vejo uma inexorável incompatibilidade ente ser cristão e ser, ao mesmo tempo, relativista, como é o caso de Ariel Alvarez Valdés. Este teólogo(?) não é "corajoso" por negar bases da fé cristã de dois mil anos. Ele é simplesmente um herege. Nem mais, nem menos.

      Sim, sei muito bem que falar a simples verdade, diretamente assim, "na lata", dói muito aos ouvidos modernos, e choca. Quem se atreve a fazer isso é rapidamente rotulado de arrogante, fundamentalista, fanático, etc, etc... "É preciso humildade", grita a voz politicamente correta que tomou conta do mundo atual.

      Parece que alguém defender qualquer ponto de vista que não seja "tudo é relativo", hoje, é o mais grave de todos os pecados. Dizer: "Isto é assim", é a pior blasfêmia, a única que não será perdoada pelos doutores da lei do nosso tempo.

      Claro que eu não defendo uma leitura literal da Escritura, ao contrário: em pleno século 21, é praticamente impossível pregar a existência histórica de Adão e Eva, assim como a versão da História do mundo apresentada no AT, simplesmente porque as ciências nos mostram o contrário. A fé não pode "brigar" com a razão, nem a Igreja com a ciência, simplesmente porque a Verdade é uma só, e onde esta mesma Verdade é buscada com honestidade, não há espaço para engano. O cristão, se é que crê na Verdade, não pode temer o estudo da Natureza, que por sinal é o outro grande Livro Sagrado que temos para ler; - em certo sentido, maior que a Bíblia, pois está aberto a todos os povos, nações e culturas, de todas as épocas.

      Mas uma coisa é ancorar o estudo da Teologia nas descobertas das ciências naturais, outra é jogar fora todos os fundamentos da Fé e da Sã Doutrina em nome de uma suposta postura de "humildade" que não ousa afirmar nada, porque tudo é relativo.

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    2. (Concluindo...)

      Também sou teólogo e pesquisador da ciência das religiões há mais de duas décadas. Por isso, sei que essa ideia de que o anjo não apareceu a Maria, conforme dizem as Sagradas Escrituras, mas sim "no seu coração", pertence a uma das piores heresias já surgidas no seio da Igreja em todos os tempos: a famigerada "teologia" da libertação(TL) que vem corroendo as estruturas da Igreja Católica por dentro, aos pouquinhos, mas com persistência e eficiência impressionantes... Ultimamente, até os protestantes históricos (ao menos os luteranos, pelo que sei) são vítimas dessa verdadeira maldição.

      Para a TL, cada um pensa o que quer, cada um apresenta a teoria que lhe convém, que lhe apetece, como se a Verdade simplesmente não existisse, e pudesse ser moldada ao bel-prazer dos homens. O herege Leonardo Boff é um dos grandes mestres nessa arte: a arte de relativizar a Verdade. Marxista até o último fio de barba, chegou a soltar esta pérola: "O Espírito Santo falou por (Karl) Marx"...

      Como eu disse, não é mais a blasfêmia contra o Espírito Santo que não terá perdão, e sim a blasfêmia de dizer que nem tudo é relativo. Afinal, - segundo o autor deste artigo mesmo, - nem Jesus Cristo tinha as respostas(!)... A partir daí, vale tudo, pois se nem Deus conhece a Verdade, absolutamente tudo é relativo: logo, logo, Jesus não multiplicou os pães, o povo é que repartiu o que tinha. Jesus também não andou sobre as águas, nem nasceu da virgem, etc, etc. Tudo isso seriam metáforas para simbolizar uma ideia qualquer.

      E logo, seguindo essa mesma linha, os novos "teólogos" chegarão à conclusão que Jesus também não ressuscitou, mas está vivo "em nossos corações". Aliás, isso já está acontecendo... Este caminho nos levará, no final, inevitavelmente, ao fim do cristianismo. A Bíblia é um conto de fadas, a Igreja deveria se modernizar e aprender a falar a linguagem do mundo... Jesus, afinal de contas, é apenas um símbolo, inventado para representar uma ótima ideia.

      Bem, euzinho, - que ainda ouso crer em Deus sem deixar espaço para o relativo, - não acredito que esse caos absoluto chegará a acontecer, pois crendo em Cristo ouso acreditar também no que Ele disse: "As portas do inferno não prevalecerão contra a minha Igreja. (...) Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo".

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