sexta-feira, 19 de junho de 2009

KARL BARTH E A ELEIÇÃO DOS JUDEUS

Karl Bart, em seu texto “A questão dos judeus e sua resposta cristã”, redigido um ano após o reconhecimento do Estado de Israel, desenvolve um reflexão sobre a eleição do povo judeu. O texto gira em torno da seguinte questão: Teria tal eleição se extinguido com o advento de Cristo e sua notória rejeição por parte deste povo? A esta pergunta Karl Barth procura responder com quatro argumentos.

O primeiro argumento utilizado pelo teólogo suíço baseia-se numa suposta “constância histórica” do povo judeu, apesar das inúmeras perseguições, calúnias e opressão a que foram submetidos ao longo de sua existência. Karl Barth vê nisso uma só explicação: a eterna eleição de Israel, mesmo diante de sua infidelidade. Para ele, a “enigmática continuidade de sua existência” é um “mistério da fé”, que só se explica diante da fidelidade incondicional de Deus a esse povo, acentuada pela morte de um judeu singular: Jesus de Nazaré. Tal morte teria aniquilado de vez essa infidelidade, abrindo as portas para um recomeço.

No segundo argumento seria de se esperar que Karl Barth buscasse subsídios para legitimar a nação judaica do seu tempo como herdeira do judaísmo pré-cristão, ou seja, que mostrasse que o judeu atual pode ser identificado com aquele que foi eleito por Deus no Antigo Testamento. Mas ele faz justamente o contrário. O teólogo acentua que os judeus da atualidade subsistem agora “apenas como sombra de uma forma”, mas que mesmo tendo seu brilho ofuscado pela rejeição à Cristo, pelas atuais divergências religiosas internas e por sua condição tão fragmentada em tantos outros aspectos, não tiveram anulada sua eleição. Para ele, os judeus voltarão a ser um povo sob cujo senhorio está Cristo.

Karl Barth busca, em seu terceiro argumento, as raízes do anti-semitismo. No seu entender, tamanho ódio contra os judeus se explica pelo fato das pessoas terem projetado neles o que há de pior no ser humano. Como a condição de povo eleito traz consigo o peso da graça, somos induzidos a achar que alguém que não merece algo doado gratuitamente é um transgressor, um rebelde. Assim, o ódio contra os judeus seria algo semelhante ao conceito freudiano de projeção, que consiste em expulsar de nós mesmos e localizar num outro, certos conteúdos psíquicos geradores de intensa angústia.

Por fim, Karl Barth busca as conseqüências da negação da eleição dos judeus por parte dos cristãos. Como ela se manifesta na prática? Ele critica o discurso feito pelos cristãos de seu tempo, que se limitava a condenar o anti-semitismo. Entende que é preciso ir além, pois nós cristãos temos “laços e deveres profundos demais para com os judeus”. Eles são povo eleito, e nós meros rebentos enxertados em sua árvore. Karl Barth destaca ainda que o que nos separa dos judeus é paradoxalmente o mesmo que nos une: Cristo. Este está ligado tanto aos judeus, já que é judeu por nascimento, como a toda a humanidade, visto que seu sacrifício teve caráter universal.


Jones Mendonça

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