1. No Antigo Testamento a cidade de Jerusalém aparece em diversos textos como esposa de Yahweh, Deus de Israel (sobretudo em Os e Jr). Este tipo de metáfora reproduz uma forma de personificação muito comum na região Antigo Oriente Próximo, que descrevia cidades femininas como consortes do deus local.
2. No livro do profeta Ezequiel (23,4) as cidades de Samaria e Jerusalém são chamadas, respectivamente, de Oholah ( = tenda dela) e Oholivah ( = minha tenda [está] nela). O leitor talvez esteja se perguntando: que tenda é esta? A resposta é simples: no caso de Oholivah, a “tenda” é o templo de Jerusalém.
3. Os eufemismos sexuais que se sequem são pra lá de escandalosos. Ora, o texto sugere que o Templo de Jerusalém, a “tenda” de Yahweh “que está nela”, foi usada pela cidade como espaço para suas fornicações, “inflamando-se com seus amantes”, cuja “carne” (ou seja, órgãos sexuais), são como de jumentos e cavalos (v. 20).
4. O eufemismo funciona bem porque a palavra hebraica אהל (’ohel) serve para indicar tanto a tenda usada como espaço privado para as relações sexuais (Cf. 2Sm 16,22) como o espaço de culto (o templo). Hoje, como no Antigo Israel, há líderes religiosos que estão usando templos como espaço para suas “fornicações” políticas.
5. Fazem isso sem qualquer tipo de constrangimento. Pelo contrário: filmam suas orgias político-sexuais e publicam em suas redes sociais. E há teólogos – de renome, inclusive (e reformados, inclusive!) – tratando essas relações carnais como suprassumo da santidade.
Jones F. Mendonça