Em
tempos de guerra, recessão econômica, catástrofes naturais ou epidemias, os
artistas sempre encontraram uma maneira de expressar suas angústias, medos e
frustrações. Nesta tela (A Guerra, 1896), o artista suíço Arnold Böcklin retrata
os quatro cavaleiros mencionados no capítulo 6 do livro do Apocalipse. A imagem
foi tomada do profeta Zacarias (1,8), que diz ter visto, em sonho noturno,
cavalos coloridos posicionados num vale profundo.
De
acordo com o texto, os cavalos/cavaleiros são emissários do Anjo de Javé,
encarregados de percorrer e observar a terra*. Javé revela-se irado após tomar
conhecimento da paz vivida pelas nações em contraste com o abandono de
Jerusalém. Mas o texto não fala em punição para essas nações. Indignado, Javé
anuncia a reconstrução de Jerusalém e a restauração de seu Templo, ocorrida em 515
a.C.
O
Apocalipse dá novo significado à imagem dos cavalos/cavaleiros. Eles aparecem
agora como instrumentos da ira de javé contra seus inimigos. O Apocalipse,
aliás, é mestre em ressignificações. Usa a seu modo passagens de Daniel,
Ezequiel, Isaías e Jeremias para compor um cenário de terror e angústia, mas
também de fé e de esperança.
*
“Terra”, em hebraico “eretz”, tem aqui o sentido de “nações”, algo raro, senão
único. O termo, sem complemento, geralmente indica a “Terra de Israel”.
Jones F. Mendonça